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Açúcar de capim pode combater diabetes

Num futuro não muito distante, se você for diabético e estiver com níveis altos de açúcar no sangue, a melhor resposta poderá ser uma só: mais açúcar. Um tipo especial de açúcar, para ser exato.
    
Foi isso o que descobriram pesquisadores do Instituto de Botânica de São Paulo e da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, ao estudar o capim-favorito (Rynchelytrum repens), comum em qualquer beira de estrada. Dois tipos de açúcar presentes na planta parecem baixar em até 50% a taxa de glicose no sangue durante 24 horas. O trabalho foi divulgado pela revista “Pesquisa Fapesp”, publicada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
    
A glicose, como os diabéticos bem sabem, é o tipo básico de açúcar usado pelo organismo, principal combustível da maioria dos seres vivos. Sua presença em excesso no sangue responde pelos problemas de saúde ligados ao diabetes. Já o betaglucano e o arabinoxilano, como se chamam as moléculas isoladas pelos cientistas no capim-favorito, são formas mais complexas de açúcar.
    
Trata-se de polímeros. Na língua dos químicos, isso significa que são moléculas gigantes, com até centenas de unidades repetidas. No caso do betaglucano, as unidades são moléculas de glicose. “O betaglucano tem uma glicose na ponta”, diz Marcos Silveira Buckeridge, do Instituto de Botânica, que coordena o trabalho.
     
Buckeridge começou a seguir a pista do capim-favorito quando uma aluna de doutorado, Ana Cardoso de Paula, contou a ele sobre o efeito antidiabético do chá feito com as folhas da planta. Como tudo indicava que o truque era operado pelo material insolúvel do chá, que ficava no fundo da xícara, ele suspeitou do betaglucano, com o qual já trabalhava.

“Essas propriedades dele já estão sendo investigadas há algum tempo. A diferença é que nosso trabalho se refere a uma planta ainda não estudada”, explica.
    
Conforme o esperado, lá estava o betaglucano, como componente da parede celular –o invólucro extra que protege as células dos vegetais e fica sobre a membrana que outros organismos, como os animais, também possuem.
    
Mais eficaz
    
O passo seguinte foi comparar a ação do betaglucano extraído do capim com uma versão industrial, produzida com base na cevada. As duas versões foram testadas em grupos diferentes de camundongos, os quais sofriam de uma forma de diabetes induzido. O estranho é que o betaglucano do capim reduziu os níveis de glicose no sangue por 24 horas, enquanto a versão industrial só agiu por duas horas. É aí que entra outro polímero: o arabinoxilano.
    
“Ele também está presente na parede celular. Imaginamos que os dois interajam, criando um aglomerado ainda maior e menos solúvel que o betaglucano sozinho”, explica Buckeridge.
    
Os cientistas, paradoxalmente, têm menos certeza sobre como os dois açúcares agindo juntos conseguem ajudar a reduzir o nível de glicose. Por um lado, pode valer um efeito presente também em outras fibras alimentares. Quando chegam ao intestino, criam uma camada viscosa que recobre o interior do órgão e impede a absorção de glicose.
    
Por outro, Buckeridge suspeita que a glicose na ponta do betaglucano se ligue aos receptores (ou fechaduras químicas) das células que normalmente percebem a glicose isolada. Essas células ficam no pâncreas e, quando estimuladas dessa maneira pela glicose, liberam insulina, o hormônio que “recolhe” o açúcar do sangue.
     
“Isso poderia ocorrer porque as moléculas de betaglucano, maiores e menos solúveis, provavelmente ficam mais tempo na circulação, ou funcionam como um sinal mais eficiente para os receptores. Em interação com o arabinoxilano, é possível que esse fenômeno seja mais acentuado.”

As perspectivas para um uso terapêutico são animadoras, mas o pesquisador pede cautela com o uso do capim. “Você não vai dizer para as pessoas saírem por aí tomando chá desse negócio, certo?”, brinca, preocupado com possíveis efeitos tóxicos.
    
Por enquanto, para as pessoas interessadas em baixar seu nível de glicose no sangue com a ajuda do betaglucano, o pesquisador recomenda a ingestão de aveia, uma fonte de fibra alimentar testada e aprovada. Buckeridge diz que sua intenção é tanto patentear uma forma de terapia com base nas moléculas quanto preparar testes de sua eficácia em humanos. “Mas, para isso, preciso de ajuda de colegas médicos, já que minha especialidade é a parede celular de plantas”, afirma.
    
O trabalho sobre os polímeros deve ser publicado numa edição futura da revista “Brazilian Journal of Medical and Biological Research” e tem apoio da Fapesp.
    
Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
Com Informações da Folha de São Paulo.
JORNALISTA: REINALDO JOSÉ LOPES