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Doença de Chagas, mal do momento

Médicos consideram alarmista o medo de contaminação oral após episódios no Sul e Norte do País.
    
Nas últimas semanas, um produto tipicamente brasileiro e largamente consumido no País saiu dos rústicos estabelecimentos em que é normalmente apreciado para as manchetes dos jornais. Alçado a vilão da noite para o dia e até proibido de ser comercializado no Estado de Santa Catarina, o caldo de cana virou alvo de celeuma depois que 31 pessoas adoeceram e outras seis morreram em decorrência de um quadro agudo do Mal de Chagas dias após consumirem o produto.
    
Em comum, todas estiveram em Santa Catarina entre os meses de fevereiro e março e foram vítimas da contaminação oral -considerada raríssima – pelo protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença. O fato fez soar um alerta epidemiológico que, depois de sucessivas investigações, apontou como foco de transmissão o caldo de cana consumido em uma barraca localizada às margens de BR 101.
    
Na semana passada, outro alarme: em Macapá (AP), 29 casos de Mal de Chagas foram confirmados em pessoas que haviam consumido açaí, um produto típico da região que vem ganhando popularidade em todo o Brasil. A principal possibilidade trabalhada pelas autoridades em saúde é de que, tanto no caso do caldo de cana quanto no do acaí, alguns barbeiros – hospedeiros comuns da doença – possam ter sido moídos durante o preparo dos produtos ou de que a matéria-prima poderia estar contaminada pelas fezes do inseto.
    
A identificação das fontes de infecção, que restringiu as possibilidades de exposição à doença, trouxe alívio para os órgãos de saúde pública. O mesmo, porém, não pode ser dito com relação aos consumidores dos dois produtos. “Fiquei com tanto medo depois do que houve que não vou mais tomar caldo de cana”, assusta-se a funcionária pública Sônia Gonçalves. Ela, a exemplo de muita gente, teme que o surto verificado em Santa Catarina possa se repetir.
     
Esse risco, porém, é baixíssimo segundo especialistas. “Criou-se um alarmismo em torno de um fato isolado. As pessoas associaram o caldo de cana à doença de Chagas, o que não corresponde à verdade”, adverte o coordenador do Ambulatório de Chagas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e consultor do Ministério da Saúde Wilson Oliveira. “O importante é tirar esta idéia da cabeça das pessoas e esclarecer que potencialmente qualquer alimento pode transmitir a doença, desde que esteja contaminado”, completa.
    
Embora seja uma forma muito rara de infecção – o Mal de Chagas é classicamente transmitido pelo barbeiro após o contato das fezes do inseto com o ferimento produzido pela sua picada – o contágio oral já foi relatado em pelo menos mais três episódios no Brasil. Em 1965, alimentos contaminados por fezes e urina de um gambá (hospedeiro do Trypanosoma cruzi) provocou um surto em uma escola de Teutônia (RS). Em 1986, 26 pessoas foram diagnosticadas com Mal de Chagas agudo contraído por meio do caldo de cana em Catolé do Rocha (PB). Situação parecida ocorreu em 1997 no Amapá, quando 15 pessoas residentes na cidade de Masagão foram infectadas depois de consumirem suco de açaí.
    
Por isso, segundo Oliveira, o simples fato de evitar ocaldo de cana ou o açaí por conta do surto de Santa Catarina não é uma medida racional. “Os cuidados devem incluir a higienização de todos os alimentos, especialmente frutas e vegetais, que devem ser bem lavados com água”, recomenda. Ele também lembra que o ponto fundamental na prevenção ao Mal de Chagas é o controle do inseto que funciona como vetor da doença.
    
Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
Com Informações do Diário de Pernambuco.
Jornalista: Juliana Aragão.