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Dengue deixa Estado em alerta

Vigilância Ambiental considera preocupante a qualidade do trabalho feito por parte das prefeituras para o controle da doença em Pernambuco
    
Depois de avaliar o controle da dengue feito pelas 185 prefeituras de Pernambuco nos dois primeiros meses do ano, o gerente de Vigilância Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Francisco Duarte, conclui que “a situação é preocupante”. Alto índice de infestação das residências por mosquitos, tratamento parcial de focos e despreparo técnico de equipes em parte das cidades são os motivos da preocupação. Em função disso, a SES fará uma avaliação geral em todo o Estado para cobrar mais atenção das prefeituras. De janeiro até a última quinta-feira, 328 pessoas com dengue foram contabilizadas em Pernambuco, sendo mais de dois terços residentes no Sertão. Dos 232 sertanejos doentes, 74,5% são de Parnamirim (área central), onde há um surto desde abril.
    
Duarte não indica os municípios que tiveram desempenho pior. Informa que cada prefeitura vai receber a avaliação, construída com dados repassados pelo próprio governo municipal. Paralelo a isso, equipes do Estado estarão visitando as dez regiões do Estado para checar pessoalmente como está sendo feito o combate aos mosquitos e a vigilância sobre os doentes. O trabalho começou pela região de Parnamirim e vai se espalhar pelas demais. Haverá seminário em cada região, para decidir como o trabalho deve ser aperfeiçoado. Duarte lembra que todos têm responsabilidade no combate à dengue, mas cabe às prefeituras executar o programa.
    
O combate à dengue é financiado pelo Ministério da Saúde, com contrapartidas dos municípios. Cada cidade ganha para vigiar as epidemias, por habitante e por mês, R$ 0,48, mais um complemento que eleva a quantia a menos de R$ 1. O município tem que bancar 30% dos recursos, exceto se a cidade tiver baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “O valor dos recursos é baixo, mas, quando bem administrado, dá resultado”, avalia Francisco Duarte.
    
Mesmo havendo suscetibilidade ao vírus 3 da dengue em regiões que ainda não foram afetadas por ele, Duarte considera que surtos poderiam ser evitados ou mais facilmente controlados se as ações fossem devidamente realizadas. “Há municípios que executam mal o controle por uma série de fatores, como a precarização de contratos de técnicos”, afirma.
    
Segundo Duarte, para que o controle seja bem feito, é necessário ter pelo menos um agente para cada 800 a mil imóveis, realizar seis ciclos completos de combate a larvas do mosquito, o que significa visita a cada dois meses em todas as casas, e registro de doentes com sinais de dengue. “Se eu fosse um gestor municipal, teria vergonha de usar o fumacê, pois demonstra que não foi possível controlar as larvas do mosquito”, enfatiza Duarte. O fumacê é indicado para matar mosquito adulto quando há transmissão da doença.
    
O presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, Roberto Amílton, argumenta que as falhas encontradas pela SES nos dois primeiros meses do ano refletem os problemas da transição de prefeitos. “Depois das eleições, no ano passado, muitos, que perderam o pleito, dispensaram equipes ou relaxaram nas ações. Os novos administradores tiveram dificuldade para retomar o trabalho”, disse.
    
População de Aedes aegypti ainda é grande
    
Os mosquitos da dengue vieram para ficar. Essa frase resume bem a constatação de especialistas em Aedes aegypti, o principal transmissor da doença. Eles dizem que apesar de todos os esforços para conter a doença depois da epidemia de 2002, a população do Aedes permanece grande, uma ameaça que pode trazer conseqüências se o vírus 4 da dengue entrar no território brasileiro e não for contido precocemente.
    
Lêda Régis, pesquisadora do Departamento de Entomologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz no Recife, diz que “há uma população bem instalada de mosquitos e que será difícil desalojá-la”. Isso ocorre, segundo ela, porque o Aedes aegypti se adapta facilmente ao ambiente urbano e descobre formas de sobreviver aos ataques feitos pelo homem.
    
Ao contrário do Culex (transmissor de filariose), que deposita seus ovos geralmente em locais coletivos, como canais e fossas, a fêmea do Aedes procura espalhar seus ovos em pequenos locais com água. Num quintal, por exemplo, é possível encontrar ovos na calha do telhado, na folha de uma árvore, num pedaço de casca de ovo ou de qualquer objeto que armazenou um pouquinho de água.
    
O segredo, então, é tentar diminuir a população de Aedes pelo menos ao nível de evitar uma epidemia. Para isso, Lêda defende o uso do larvicida biológico e a retirada dos ovos dos mosquitos, ação já desenvolvida com sucesso em Recife e Moreno, num projeto piloto do CPqAM com as prefeituras. De maio a junho do ano passado, por exemplo, foram coletados e destruídos 630.262 ovos pelas 600 armadilhas distribuídas. A especialista destaca a necessidade de combate permanentemente. “Controlar a população de mosquitos é como controlar uma mola de aço, que precisa ser mantida sob pressão o tempo todo. Relaxou, volta a crescer”, ensina a pesquisadora.
    
Francisco Duarte, gerente de Vigilância Ambiental do Estado, explica que o Brasil ainda não tem condições de produzir larvicida biológico para todo o País. Quanto à retirada dos ovos do mosquito, observa que os estudos são prematuros e que a prática exige um supervisionamento técnico de qualidade, condição ainda não alcançada por parte dos municípios nas atuais ações.
    
Desinformação agrava situação em Parnamirim
    
A cidade já tem 173 casos confirmados, segundo o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde. Grande parte da população não conhece as formas de evitar a doença
    
PARNAMIRIM – Um caso de dengue na residência da agricultora Eliete Gonçalves da Silva, 47 anos, não foi suficiente para que ela tampasse a caixa-d”água de sua casa, que, aberta, se torna um possível foco do Aedes aegypti. A doméstica Maria Gidalva, 30, saiu da cama após oito dias de febre e dores no corpo por causa da doença e se deparou com cinco pneus contendo água limpa e pelo menos meia dúzia de larvas do mosquito. Esses dois exemplos mostram bem a situação de Parnamirim, no Sertão de Pernambuco, a 550 quilômetros do Recife, que enfrenta surto de dengue há pouco mais de um mês. Parte da população está desinformada quanto às formas de evitar a doença.
    
A quantidade de doentes ultrapassou a capacidade de atendimento do Hospital Raimundo de Sá Barreto Cabral, único do município, onde as pessoas têm que dividir camas e se acomodar em bancos ou mesmo no chão. A prefeitura afirma que, desde o início de abril, cerca de duas mil pessoas, o que equivale a 10% da população, procuraram a unidade de saúde com sinais da doença. Durante a semama que passou o hospital recebeu cerca de 40 pessoas por dia com sintomas de dengue. Na última terça-feira, mais de 60 moradores foram medicados.
    
Apesar do número alarmante, não é difícil encontrar reservatórios e caixas-d”água a céu aberto no município. De acordo com a Secretaria de Saúde de Parnamirim, 90% das residências localizadas na zona urbana registraram, pelo menos, um caso de dengue. A constante falta de água, que leva os moradores a armazenar (na maioria das vezes de forma inadeqüada), e as chuvas que vêm atingindo a região têm colaborado para o aumento dos casos.
    
No entanto, a falta de informação é a maior vilã. Dona Eliete, por exemplo, disse que não foi informada de que deveria tampar a caixa-d”água de sua residência. “Meu filho teve dengue e ninguém me disse o que eu deveria fazer em casa. O que faço às vezes é passar uma peneira na caixa-d”água para retirar os mosquitos e uns bichinhos que ficam andando pela água”, afirmou a dona de casa.
    
No caso de Maria Gidalva, a situação é mais grave. “Reclamei com a vizinha que os pneus que estão no quintal dela poderiam ser um foco de dengue, mas ela me garantiu que não. O jeito é rezar para não pegar a doença de novo”, destacou, mostrando as larvas do mosquito.
     
Casos de pessoas que contraíram a doença mais de uma vez são comuns na cidade. Um casal de idosos teve que ser transferido para o Recife por estar enfrentando o vírus pela segunda vez este ano. O pedreiro Adaílton Pereira, 38, também adoeceu duas vezes. “É horrível. Contraí a doença e, quando já estava melhor, tive uma recaída”, explicou Adaílton, que já registrou mais dois casos de dengue em sua casa este ano.
    
FOCOS – O problema parece ser maior na Cohab II, bairro localizado na periferia de Parnamirim. A agente de saúde Maristela dos Santos mora no local e informou que encontra uma média de dez larvas do mosquito por semana nas casas dos vizinhos. “Aqui muita gente não tem dinheiro nem para comprar uma lona para tampar a caixa-d”água. Ando com uma larva num frasco para mostrar para o pessoal”, disse Maristela dos Santos.
    
No hospital municipal, a situação é crítica. Apesar dos relatos das enfermeiras de que no início do surto chegaram a atender 300 pessoas com os sintomas da dengue num dia, a unidade de saúde ainda enfrenta problemas. A falta de leitos levou os médicos a atender os doentes em suas casas. Quem conseguiu uma vaga no hospital teve que dividir a cama com outro paciente. É o caso das estudantes Janaína Ferreira, 19, e Poliana de Souza, 17. Elas ficaram juntas por mais de dez horas enquanto recebiam soro. “É o jeito. Já que a cidade está enfrentando esse problema, o que podemos fazer é entender a situação do hospital, que não está suportando a demanda”, disse Janaína Ferreira.
    
Francisco Duarte, gerente de Vigilância Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde, explica que as equipes (15 técnicos) deslocadas à cidade na última semana estão orientando a população para o uso de larvicida em todos os reservatórios d”água descobertos. Ele disse também que os pneus jogados nas ruas serão retirados.
    
Todos os casos de dengue registrados em Parnamirim são do tipo clássica, até o momento. O vírus responsável pelo surto no município seria do tipo 3. Até este fim de semana, 173 casos da doença tinham sido confirmados por exames de laboratório.
    
Notificar casos é a maior dificuldade dos técnicos da prefeitura
    
Para a Prefeitura de Parnamirim, a maior dificuldade é notificar os casos. Com a emergência do único hospital da cidade lotada de pessoas se queixando de sintomas da dengue, segundo a Secretaria de Saúde da cidade, é quase impossível anotar todas as informações do paciente. A epidemia levou o consultor estadual do Programa Nacional de Controle da Dengue, Wellington Tavares, a antecipar sua visita de rotina à cidade em uma semana.
    
Segundo ele, que chegou segunda-feira ao local, a intenção é ensinar aos funcionários da prefeitura como alimentar o Sistema de Informações de Agravos Notificados.

Até o fim da semana passada, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 173 casos de dengue no município. A epidemia é causada pelo vírus 3.
    
Mais de trezentas fichas do hospital estão sendo analisadas e, pelo menos, mais 1,5 mil devem ser investigadas. “Estive em Parnamirim para investigar o que está acontecendo. A Secretaria Estadual de Saúde e a prefeitura estão agindo da forma correta. O Ministério da Saúde apenas está dando esse suporte técnico para chegarmos a um número comum”, explicou.
    
A secretária de Saúde de Parnamirim, Ioneide Lima, garantiu que não estão sendo poupados esforços para combater a doença. Segundo ela, desde o início da epidemia, já foram gastos quase R$ 100 mil em medicamentos e transporte de doentes. “Muitos doentes não tem condições de sair de casa. Nossas duas ambulâncias estão indo buscar esse pessoal em casa.
    
Cada uma roda cerca de 80 quilômetros por dias só na zona urbana da cidade”, disse. Quatro pessoas, de acordo com a secretária, ainda tiveram que ser transportadas para Recife. “Foi um casal de idosos e duas jovens recém-transplantadas que contraíram a doença e precisam de mais cuidados.”
    
A expectativa do governo municipal é que, até o fim dessa semana, a situação melhore no município. Para a diretora do hospital, Ana Paula Lucena, as medidas adotadas pelo governo do Estado devem começar a dar resultado. “Temos essa esperança. Está um caso alarmante. Há ruas em que todas as pessoas já estiveram ou estão doentes. O que posso garantir é que não está faltando medicamento”, disse a diretora.
    
Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
     Com Informações do Jornal do Commercio.
     JORNALISTAS: VERÔNICA ALMEIDA & CARLOS EDUARDO SANTOS.