Pesquisar
Agendar Atendimento Presencial

Serviços

ver todos

Ibope aponta que 81% dos brasileiros confiam nos médicos

Para o brasileiro, o tiroteio político não faz vítimas apenas em Brasília. A crise de credibilidade é generalizada e, segundo pesquisa do Ibope, apresenta os piores resultados desde que começou a ser feita, em 1989. A desconfiança é geral. Empresários, que em outros momentos pareciam blindados aos escândalos, sofreram com a atual crise. O Judiciário também não escapou à fase ruim.
    
Contradição.
Apesar das mazelas na saúde pública, os médicos são os campeões de credibilidade
No meio do mar de lama, os médicos conseguiram manter a boa imagem. Entre as 18 categorias avaliadas pelo Ibope em agosto, os médicos conseguiram a melhor avaliação. É curioso que mereçam tamanha confiança diante da situação crítica do sistema público de saúde, que serve à imensa maioria da população brasileira, com problemas como falta de leitos e medicamentos. De acordo com o resultado, 81% dos entrevistados confiam na classe médica e apenas 16% dizem não acreditar. Apesar do bom desempenho, na pesquisa anterior, em maio, a aprovação foi maior, 85%, ante 12% que disseram desconfiar dos profissionais.
    
Para Márcia Cavallari Nunes, diretora-executiva do Ibope, a avaliação positiva é explicada pela imagem que a profissão tem no imaginário das pessoas: “Além disso, é impossível não pensar “eu estou na mão do médico, não tem como não confiar””.
    
“Apesar desse bom resultado, o que preocupa é a parte da população que não vê credibilidade na classe médica, mesmo com a medicina abrindo chances de cura para as pessoas”, opina Isac Jorge Filho, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
    
Segundo o presidente do Cremesp, a imagem dos médicos pode piorar com o tempo por conta dos efeitos da multiplicação das faculdades de medicina no Brasil. No País, são 146 faculdades, enquanto nos EUA são 126 e no Canadá a oferta é de apenas 32. “Há uma abertura indiscriminada de faculdades sem uma regulamentação clara, sem obedecer a critérios mínimos, como os aspectos sociais”, comenta Jorge Filho. Entre esses aspectos estão a distribuição geográfica dos cursos, concentrados nos grandes centros. O resultado disso é que os médicos acabam por ficar nas grandes cidades e as localidades mais afastadas não têm profissionais em número suficiente.
    
“O excesso de oferta de profissionais nas grandes cidades também cria um problema de remuneração. Os médicos, mal remunerados, têm de trabalhar em vários lugares e não podem se dedicar à atualização. Por isso ainda há quem nos avalie mal”, explica Jorge Filho.
    
José Manoel de Camargo Teixeira, superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, lembra que os médicos ganham um papel cada vez mais importante na sociedade, graças a fatores como o envelhecimento da população, o aumento da expectativa de vida, o tratamento de doenças que antes eram fatais. “O sistema de saúde, incluindo os médicos, está se organizando e se tornando mais eficiente, mais próximo da população. Hoje se dá mais ênfase, por exemplo, aos médicos de família e às redes públicas voltadas à saúde das comunidades”, analisa Teixeira, que comanda o maior hospital da América Latina.
    
O superintendente do HC de São Paulo admite que por muito tempo a imagem do médico esteve atrelada à busca de uma carreira que permitisse ascensão social. “Isso chamuscou a imagem do profissional, mas, de uns tempos para cá, tem havido uma mudança, uma aceitação maior do médico. A própria formação do profissional mudou. Ele está cada vez mais voltado à realidade da população”, diz Teixeira.
    
No meio da crise política, a imagem dos empresários foi a que mais sofreu arranhões. Na comparação entre o levantamento de maio e o de agosto, a queda foi de 15 pontos porcentuais. Os empresários estão entre os que tiveram pior desempenho, só à frente da polícia, do Poder Legislativo, dos partidos políticos e dos próprios políticos. Ao todo, 58% dos entrevistados disseram não confiar na classe.
    
Desde março de 1989, quando a pesquisa começou a ser feita, o melhor índice de avaliação foi registrado em maio deste ano, quando 52% disseram confiar na classe empresarial. Para Márcia Cavallari, a piora da percepção dos brasileiros tem relação com a atual crise política. “As pessoas associam o dinheiro para o caixa 2 de campanha com os empresários”, avalia.
    
Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico e um dos apoiadores da campanha de Lula à Presidência da República, é categórico: “É claro que essa crise respingou na gente. Empresário é um bicho corrupto, estou cansado de ver esse tipo de coisa. Não é só para a imagem dos políticos que esta crise é ruim, para nós também é muito ruim. Mas é bom lembrar que também há empresários sérios. São poucos, mas existem. No geral, empresário é quase igual a político. E a gente tem de conviver com esse tipo de imagem”.
    
Vidigal.
“O Judiciário é muito ruim mesmo”
Nem o Judiciário, que deveria estar acima de qualquer suspeita, escapa da péssima avaliação do brasileiro, como mostra a pesquisa do Ibope. Apesar do dado alarmante – mais da metade da população não confia no Judiciário -, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, não revela estranheza: “A avaliação não me surpreende, porque o Judiciário é muito ruim mesmo”.
    
Segundo a pesquisa do Ibope, em agosto, 51% não confiavam no Poder Judiciário. Em maio, esse indicador era de 40%. O mais alto índice de rejeição foi registrado no início do levantamento, em maio de 1999, quando 58% dos entrevistados afirmaram não confiar no Judiciário.
     
Para Vidigal, apesar de os números não serem bons, demonstram uma melhora se comparados a outras pesquisas. O ministro cita os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Enquanto o levantamento do Ibope aponta que 45% dos entrevistados confiam na instituição, no Pnud, apenas 25% confiavam no Judiciário. “A mudança tem de começar na mentalidade das pessoas que fazem o Judiciário”, afirma o ministro.
    
Sem se esquivar de uma autocrítica, Vidigal fala sobre a dificuldade das pessoas de entender o dia-a-dia da instituição. “É bom lembrar que a maior parte da população nem sequer tem acesso ao Judiciário, então nem sabe do que se trata. Dos Três Poderes, é o mais distante da população. O Judiciário passa mais da metade do tempo dedicado às demandas do poder público. As leis que ele opera são muito defasadas. Além disso, existe o problema do excesso de burocracia processual, um causador dessa grande morosidade.” Segundo o ministro, um processo (desde a primeira instância até estar transitado em julgado) pode levar de cinco a dez anos nas mãos da Justiça, e mais dez a 15 anos no caso de uma ação rescisória.
    
No meio de tanta falta de credibilidade, até as Forças Armadas, uma das instituições que mais despertam confiança nos brasileiros, tiveram uma queda na última pesquisa do Ibope. O índice caiu de 75% para 69%. Ainda assim, é a terceira melhor avaliação entre todas.
    
“É bom ressaltar que a credibilidade que os brasileiros têm nos militares não quer dizer que se queira a volta deles ao poder. A imagem deles remete a uma questão de ordem. É quase que uma compensação pelo fato de a polícia ter uma imagem muito ruim”, avalia a diretora do Ibope. De acordo com a pesquisa, só 35% dos entrevistados confiam nos policiais.
    
“Apesar de o trabalho das Forças Armadas ser pouco conhecido, talvez a sociedade comece a entender qual é a realidade dessa categoria, em que os profissionais realizam trabalhos sociais, trabalham no interior do Brasil, com uma dedicação heróica, apesar dos baixos salários”, argumenta o brigadeiro Sérgio Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar e ex-comandante da Escola Superior de Guerra, hoje na reserva.
    
O pesquisador Celso Castro, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), ligado à Fundação Getúlio Vargas, analisa as duas instituições: “A polícia tem uma relação mais próxima com as pessoas, enquanto as Forças Armadas estão mais distantes, mais preservadas de escândalos, de casos de corrupção, de ilícitos”.
    
Desde 1989, quando as Forças Armadas começaram a ser avaliadas pelo Ibope, a credibilidade da instituição só tem aumentado. Assim como a diretora do Ibope, o pesquisador não acredita que essa valorização da imagem das Forças Armadas possa ser confundida com um anseio de volta dos militares ao comando do País. “Tanto é assim que, quanto mais o tempo passa, desde que os militares ocuparam o poder no Brasil, mais eles se tornam confiáveis”, diz.
    
Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
Por Paula Pacheco
Revista Carta Capital – Edição nº 358 – 07.09.05