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O novo poder

SÉRGIO GONDIM

A reação ao vídeo dos torcedores brasileiros abusando da mulher russa foi impressionante. Mostrou que a opinião pública pode impor limites aos inconsequentes, aos que desrespeitam o próximo e ridicularizam inocentes. A manifestação simultânea, como a internet possibilita, fará com que outros pensem duas vezes antes de falar ou agir.

Também vimos a resposta do mundo à ordem para separar filhos dos pais imigrantes na fronteira dos Estados Unidos. O presidente deixou dúvidas no ar se seria mesmo um ser humano, mas sentiu o peso da reação mundial ao absurdo que ordenara.

Como todo poder, pode estimular excessos. Alguns esbravejaram até sem saber porque, indo na onda de condenar com veemência tudo que os outros estão condenando, sem qualquer ponderação.

Por coerência, as reações deveriam ocorrer diante de outras aberrações, mas a resposta da sociedade é tímida, por exemplo, quando se comete violência contra os trabalhadores nos ônibus, roubando seu suado salário e repercutindo menos do que o furto do Rolex supérfluo no sinal de trânsito, numa lógica invertida onde os mais favorecidos recebem mais solidariedade e proteção do Estado.

Reação coletiva semelhante deveria ocorrer quando um governante, eleito para administrar, faz as nomeações por descarado interesse eleitoral e nenhuma preocupação com a gestão em si. Assim, ministros, diretores de portos, comissionados, assumem os cargos e não querem saber de planejamento estratégico de longo prazo e muito menos da qualidade do serviço público.

Também deveria haver reação quando os responsáveis pela proteção dos usuários de planos de saúde se associam aos interesses de quem deveria fiscalizar ou quando aparece alguém elogiando o crime de tortura. Caberia mobilização se juízes escolhidos com viés político vestissem camisas partidárias no lugar da toga e decidissem, de forma pomposa e teatral, um placar já sabido, como se não houvesse a lei maior.

A mesma indignação deveria explodir quando faltam leitos na maternidade do SUS. Lá, vai nascer mais um brasileirinho que já chega sofrendo, sem teto e sem chance de frequentar uma boa escola. Aí, sim, o novo poder da opinião pública também deveria se manifestar exigindo mudanças.

l Sérgio Gondim é médico.