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Homenageados destacam importância da sensibilidade e do relacionamento humano para a Medicina

Cinco homenageados, suas famílias, personalidades, acadêmicos e dirigentes de entidades médicas participaram, em Brasília (DF), nesta terça-feira (11), da solenidade de entrega das Comendas 2018. A honraria do Conselho Federal de Medicina (CFM) é destinada a médicos que contribuíram para o engrandecimento da Medicina nos campos do ensino, das humanidades, da arte, da saúde pública e da responsabilidade social, nos planos nacional e mundial.

Para o 2º vice-presidente do CFM, Jecé Freitas Brandão, que conduziu a cerimônia, “ao homenagear esses médicos destacados, a Casa da Ética Médica Brasileira sinaliza para os 465 mil médicos do País que o trabalho com esmero, dedicação e ética é possível e vale a pena, pois quem assim se mantém terá sempre o reconhecimento de sua classe profissional e, mais ainda, o respeito, admiração e carinho da comunidade onde exerce as suas atividades profissionais”.

Este é o oitavo ano consecutivo em que o CFM presta essa homenagem pública. O secretário-geral do CFM, Henrique Batista e Silva, lembrou as diretrizes que a instituíram – as Resoluções 1.972/11 e 2.022/13 – e que nasceram com o propósito de “zelar pelo prestígio e bom conceito da profissão”.

Rodrigo d’Eça Neves, recebedor da comenda Moacyr Scliar de Medicina, Literatura e Arte, falou sobre a importância e a influência da arte em vários estágios da sua vida, incluindo a infância, a formação acadêmica e o trabalho médico. Ao público, citou vários exemplos de como a habilidade artística permeou a sua existência. “Na faculdade de Medicina, o desenho era mais fácil do que escrever ou copiar e isso facilitava registrar e entender as propostas de técnicas cirúrgicas”, exemplificou. Para Neves, que foi o primeiro cirurgião plástico especialista de Santa Catarina e, em 1995, criou e dirigiu o curso de pós-graduação em cirurgia plástica do Hospital Universitário da UFSC, “a Medicina é a arte empírica de curar e se vale da ciência no seu exercício”.

Ana Lúcia Escobar, agraciada com a comenda Sérgio Arouca, que referencia a Saúde Pública, destacou em seu discurso que este campo de atuação é desafiador. Recorreu à mitologia grega para defender a importância de se superar a dicotomia entre o prevenir e o curar. “Conseguir fazer com Higeia e Panaceia andem juntas ao lado de Asclépio certamente não é uma tarefa fácil”, disse. Estes são os deuses associados à prevenção de doenças, à cura e à Medicina, respectivamente.

“Fazer saúde pública é sem dúvida estar ao lado das pessoas no momento noturno de suas vidas, isto é, no momento da doença, e contribuir para que a luz volte a brilhar. É contribuir para um País melhor e uma sociedade mais humana, justa e solidária”, disse a médica, que fez especialização, mestrado e doutorado em saúde pública, pós-doutorado em epidemiologia e serviços de saúde, e atualmente é docente da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Malaquias Batista Filho – homenageado com a Comenda Zilda Arns Neumann de Medicina e Responsabilidade Social – dedicou o seu discurso para reverenciar a patrona de sua honraria, destacando alguns aspectos de sua biografia em ações básicas de saúde, educação, nutrição e cidadania.

Em um momento destacado pelo avanço e consolidação da presença feminina na Medicina, o condecorado destacou o pioneirismo e as barreiras enfrentadas pela médica sanitarista e pediatra brasileira ao cursar Medicina “pelo simples fato de ser uma mulher”.

Retrocedeu mais de um século na história para lembrar a trajetória de Maria Montessori (1870-1952), a primeira italiana a se diplomar em medicina em 1896. Segundo o comendador, há relatos de que o papa Leão XIII teve que intervir para garantir que Montessori fosse admitida no curso.

Batista Filho é PhD em saúde coletiva pela Universidade de São Paulo (USP), docente em diferentes escolas em Pernambuco (IMIP e UFPE) e na Bahia (UFBA). Ganhador do 57º Prêmio Segurança Alimentar e Nutricional da Fundação Bunge, participou de missões internacionais das Nações Unidas em países da África e América Latina.

As demais homenagens da noite foram prestadas a Eurípides Ferreira, com a Comenda Fernando Figueira de Medicina e Ensino Médico, e a Anibal Gil Lopes, com a Comenda Mario Rigatto de Medicina e Humanidades.

Eurípides Ferreira destacou em seu pronunciamento a dimensão social do trabalho médico. “Conscientemente ou não, o homem somente se realiza plenamente quando se esquece de sua individualidade e se eleva e se projeta como parte integrante do imenso corpo social ao qual pertence”, disse, agradecendo ainda à família e às instituições que o apoiaram e contribuíram para o seu encantamento pela histocompatibilidade.

Eurípides foi o primeiro médico a realizar um transplante de medula óssea no Brasil, e participou do descobrimento dos antígenos de histocompatibilidade. Acumulou, ao longo de sua carreira, 60 artigos científicos publicados em revistas indexadas, 360 comunicações em congressos científicos e 25 capítulos em livros de hematologia e imunologia.

Anibal Gil Lopes também destacou as relações humanas que permeiam a atividade médica. “Conhecer o outro e entrar na intimidade do outro exige que nos façamos pequenos e que nos rebaixemos para subirmos juntos, elevarmo-nos juntos”, disse.

Para Lopes, a comenda relacionada às Humanidades tem um significado especial, já que sua carreira foi marcada essencialmente como titular do Instituto de Biofísica da UFRJ e as outras homenagens que recebeu foram mais voltadas a aspectos científicos. “Certamente, a ciência sem consciência e sem humanidade é menor. Nós nos tornamos maiores à medida em que nós nos encontramos com o outro”, defendeu.

Além da carreira médica, Anibal Gil Lopes foi ordenado padre no mesmo ano em que se graduou. Ele é professor titular aposentado da UFRJ e membro de onze instituições científicas. Com uma vida dedicada ao cuidado com o ser humano, em 1987, fundou uma casa de acolhimento para doentes terminais atingidos pela AIDS, em São Paulo (SP).