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Um coquetel de problemas

As matérias veiculadas pelo jornal citado como “fonte” não representam a opinião do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). O clipping tem por objetivo atualizar os leitores das principais notícias referentes à saúde veiculadas no país e, principalmente, no estado de Pernambuco.

CIDADE DO MÉXICO – Uma epidemia de dengue assolou Honduras em 2019, com mais de cem mil casos e 180 mortes. No início deste ano, as autoridades já se prepararam para outro pico nos casos da doença, sem saber como conseguiriam lidar com ela tendo um sistema de saúde pública frágil e com falta de pessoal qualificado. Então veio o coronavírus, forçando o país a encarar uma batalha insana em duas frentes.

“Simplesmente horrível. Estes últimos meses têm sido absurdos”, desabafa a dra. Dinorah Nolasco, uma das principais especialistas em saúde do norte de Honduras, região particularmente afetada pelas duas doenças.

Embora a pandemia do coronavírus afete o mundo inteiro, alguns países, principalmente entre os que estão em desenvolvimento, veem-se sob uma pressão extraordinária, tendo de enfrentar ao mesmo tempo surtos de outros males, problemas crônicos da saúde pública e complicações consequentes da má gestão governamental, da pobreza e dos conflitos armados.

E as autoridades temem que os cuidados e procedimentos exigidos pelo novo vírus possam desviar a atenção do governo e abrir a porta para um possível ressurgimento de outras doenças.

Na América Latina, onde o número de casos da covid-19 vem subindo drasticamente, os governantes estão tentando combater novos surtos de dengue e, ao mesmo tempo, ganhar a luta contra outras doenças infecciosas. Mas, segundo autoridades, pelo menos nove nações da América Latina e do Caribe fizeram uma pausa nas atividades de imunização, ameaçando a iniciativa de controlar males como a pólio, a tuberculose e o sarampo.

A dengue também está castigando diversas nações no Sudeste Asiático, como a Indonésia, gravemente atingida pelo coronavírus; já na África, a preocupação são os surtos recentes de febre amarela, cólera, sarampo e ebola, entre outras doenças.

Um exemplo alarmante da extensão dos distúrbios causados pelo coronavírus às estratégias de saúde globais é que os programas de vacinação de pelo menos 68 países foram “substancialmente prejudicados”, segundo uma declaração divulgada na semana passada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Unicef e a Gavi, uma parceria público-privada que ajuda a fornecer vacinas para países em desenvolvimento.

Segundo a agência, as suspensões podem afetar cerca de 80 milhões de crianças com menos de um ano de idade e representam um risco de ressurgência de doenças como pólio, sarampo, tifo, febre amarela, meningite, tétano e cólera.

Entre as causas para a interrupção estão os confinamentos – que impedem a movimentação de funcionários da saúde pública e de pacientes –, o medo da transmissão do coronavírus durante as iniciativas de vacinação em massa, suprimentos inadequados de vacinas por causa de atrasos na entrega e equipamento de proteção insuficiente para os funcionários.

Em alguns locais, os profissionais responsáveis pelas campanhas de imunização foram reescalados para combater a covid-19.

A pandemia, além de outras dificuldades imensas enfrentadas pela saúde pública, “expõe as vulnerabilidades de muitos países das mais diferentes maneiras”, afirma Richard Mihigo, coordenador do programa de desenvolvimento de vacinas e imunização da OMS na África.

Ele prossegue: “Há países praticamente de joelhos, paralisados. Fica bem claro que eles precisam ter um sistema de saúde muito mais resiliente para controlar qualquer surto ou se preparar para os que porventura houver no futuro”.

O coronavírus tomou conta da América Latina bem depois de ter começado a castigar o resto do mundo; de fato, durante os primeiros meses do ano, as autoridades tiveram de enfrentar problemas mais urgentes, incluindo a dengue.

Em 2019, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti devastou o continente com a pior epidemia já registrada na região: foram três milhões de casos e mais de 1.500 mortes.

O surto castigou especialmente Honduras, sobrecarregando um sistema de saúde já enfraquecido por cortes de verba e pela corrupção generalizada, mal equipado para lidar até com as demandas mínimas, quanto mais uma epidemia de níveis históricos. No fim do ano, o país já tinha registrado 61 por cento dos óbitos pela doença na América Central.

O maior número de casos de dengue ocorreu no departamento de Cortés, onde os esforços de controlar a transmissão foram dificultados ainda mais pela falta de pessoal treinado e pela presença maciça das gangues, que durante meses impediram o acesso das equipes de saúde aos bairros mais atingidos.

Pois a dengue continua sendo uma grande preocupação na América Latina e no Caribe em 2020. Segundo as estatísticas mais recentes da Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 1.426.000 casos foram registrados na região até agora, um pouco menos que o mesmo período do ano passado.

Mas as autoridades temem muitas subnotificações por causa na ênfase na covid-19. “A covid-19 está desviando a atenção de outros problemas tão urgentes quanto ela”, confirma o dr. Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças contagiosas da Organização Pan-Americana de Saúde, com sede em Washington.

Segundo a diretora da entidade, dra. Carissa Etienne, as Américas, com mais de 2,4 milhões de infectados pelo coronavírus e cerca de 150 mil mortes, se tornaram o novo epicentro da pandemia.

Em Honduras, o número de casos de dengue já superou a conta do ano passado –, e é possível que o pior ainda esteja por vir, como temem os especialistas. A estação chuvosa está só começando, gerando mais empoçamento e enchentes, e aumentando as opções de criadouros para os mosquitos. “Esperamos uma proliferação muito maior do mosquito entre julho e setembro”, explica a dra. Piedad Huerta, representante da Organização Pan-Americana de Saúde em Honduras.

As autoridades de saúde do país já se preparam para uma repetição da crise de 2019, quando a rede hospitalar de algumas regiões ficou superlotada, com casos gravíssimos, inclusive de crianças – só que, para piorar, desta vez há também o problema da covid-19. “Sobrecarrega ainda mais os serviços de saúde. Sem dúvida, não é fácil para o país conseguir lidar com as duas coisas eficientemente. É um desafio enorme”, afirma Huerta.

O governo hondurenho anunciou que está contratando mais médicos, enfermeiros e técnicos para lidar com a ameaça do coronavírus, ao mesmo tempo que impôs medidas drásticas para conter a disseminação, incluindo o fechamento das fronteiras, instaurando um toque de recolher e restringindo ao máximo as saídas de casa da população.

Nolasco, diretora de saúde da província meridional de Cortés, informa ter recebido um contingente extra de 200 profissionais, entre médicos, enfermeiros, microbiólogos e outros, para compor equipes médicas de resposta rápida e conduzir as campanhas educacionais de porta em porta, que são a base de seu programa de saúde pública para enfrentar o coronavírus e a dengue.

Mas, embora não tenha mais problemas com as gangues como no ano passado, seus grupos ainda têm dificuldade de acesso a certas áreas, tendo de enfrentar os moradores, unidos para impedir a entrada dos profissionais, com medo de que estes sejam portadores do vírus.

Nolasco conta que ela e seus funcionários já foram escorraçados até com facões e pedras. “Teve uma vez em que o pessoal queria entrar no bairro, e os moradores não só não deixaram como ainda jogaram água sanitária em cima”, conta. “Algumas pessoas, apesar de contaminadas pela Covid-19, têm medo de chamar a atenção porque têm vergonha da doença e se sentem constrangidas; outras negam até que seja um fenômeno real”, completa.

E há também os pacientes da covid-19 que só procuram ajuda médica quando já é tarde demais. “As pessoas estão chegando à emergência para morrer. O combate tem de ser na base da educação”, conclui.

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