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Presidente do Cremepe recebe título de Cidadão Pernambucano

Por iniciativa do deputado Sebastião Oliveira, do PL, o médico cearense Ricardo Paiva recebeu, na última terça-feira (11.10), o título de Cidadão de Pernambuco na Assembléia Legislativa. Paiva é o atual presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco – Cremepe. Sebastião Oliveira informou que a família do médico chegou ao Estado em 1970, depois de passar um período em São Paulo, aqui se estabeleceu. Segundo o deputado, durante a vida acadêmica, Ricardo se destacou pela dedicação aos pacientes e firmeza na defesa pelas causas sociais. Paiva foi médico residente do hospital Oswaldo Cruz e lá se especializou em cardiologia. Entre 1987 e 1990 Ricardo dirigiu o hospital, fazendo várias reformas na unidade médica.

O homenageado foi presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco em dois mandatos e presidente da Federação Norte/Nordeste dos Médicos. O cearense também foi presidente da Confederação dos Médicos do Brasil e, em 2003, foi eleito presidente do Cremepe para um mandato que vai até 2008. Para Oliveira, a luta de Paiva pela classe médica de Pernambuco é histórica e é mais que merecido que seja agraciado com o título de cidadão.

O deputado Sebastião Rufino, do PFL, presidiu a solenidade e destacou os méritos e a dedicação de Ricardo Paiva às ciências médicas, um homem que se integrou à nossa gente e aos nossos costumes com o mais elevado espírito de pernambucanidade. Já Ricardo Paiva salientou a emoção e o orgulho de ter oficializado uma cidadania que já tem trinta e quatro anos de amor e dedicação ao povo pernambucano.

CONFIRA ABAIXO O DIRCURSO COMPLETO DE RICARDO PAIVA:

“Meus amigos,
Antes de tudo, quero agradecer a presença de todos e a generosidade do Dep.Sebastião Oliveira e todos os deputados da Assembléia Legislativa, casa de Joaquim Nabuco e portanto casa do povo pernambucano. Sinto-me bastante honrado em receber o título de cidadão Pernambucano e muito feliz porque além de Recifense, sou também agora oficialmente pernambucano. Afetivamente , já sou pernambucano de longa data, pela relação de amor que tenho com o povo , história , cultura, arte e política deste Estado . Quero aproveitar este instante, esta tribuna e a presença de vocês, não para falar de meu amor por Pernambuco, porque amor não se explica e nem se justifica, simplesmente ama-se. Tampouco quero falar de mim.

Como qualquer outro brasileiro, tenho defeitos e qualidades.Tenho amigos para quem nada precisa ser dito e outras pessoas para quem nada adiantaria dizer.Como todos os presentes estamos passando pela vida, curta como ela é e sabemos que seremos todos um dia apenas saudade e em algumas gerações, esquecidos. Por isso, quero falar, refletir e compartilhar nosso momento, presente, aqui e agora, enquanto cidadão que convive neste planeta, neste Estado deste Brasil, neste período de tempo. Quero falar de um mundo real. Um mundo que nós todos sabemos de sua existência, convivemos diariamente e que precisamos unir forcas e energias para transformá-lo. Um terço das pessoas deste país vive abaixo da linha da pobreza, na miséria.

Dois terços de nosso povo vive com menos de cinco salários mínimos.Apenas um terço da população tem carteira assinada. Um por cento apenas das pessoas deste país detém 50 por cento do dinheiro circulante enquanto 60 por cento da população mais pobre , 20 por cento do dinheiro circulante. Para cada real arrecadado, temos um real sonegado e um outro roubado. São números que agridem a sociedade. 80 por cento de nossos irmãos não têm dinheiro para pagar planos de saúde e dependem do SUS. Menos de 10 por cento, cursam a universidade. E trinta por cento sentem fome. São cerca de 50.000.000 de pessoas com fome.Em 1000 dos 5000 municípios brasileiros há pontos de prostituição infantil.

São meninas de 5 a 10 anos que vendem o corpo por centavos para levar comida pra casa . Muitas delas sofrem o abuso do próprio pai. 500 municípios brasileiros dependem economicamente da aposentadoria do idoso para com um salário mínimo mover a economia da cidade. A primeira causa de morte em nosso país é o enfarte miocárdico. A segunda: mortes violentas. Tudo isso tem a ver conosco.Há uma doença ética em cada um de nós. O exposto, são os sintomas. Nós permitimos isso. Nós colaboramos com isso. Nada existe numa sociedade sem que o conjunto dela permita. Nosso tapete está repleto de hipocrisias, como a que ocorre diariamente atingindo os direitos sexuais da mulher, legalmente conquistados pelo movimento feminista e cotidianamente contestado por falsos moralistas que não resistem a exame mínimo da própria consciência.

Os jovens não têm conseguido inserção no mercado de trabalho. As pessoas migram do interior para a capital em busca de emprego e terminam nas favelas. As que têm um emprego de um salário mínimo recebem vale transporte, moram em condições precárias na periferia, mas não têm dinheiro sequer para ir à praia. Não têm lazer, sofrem em filas de hospitais, não têm dinheiro para comprar seus remédios, nem seu material escolar, apesar de seu direito constitucional à saúde e à educação. Nas prisões, dois terços dos que lá estão são vinculados ao tráfico de drogas, que, como tem sido demonstrado, é o campeão de investimentos na economia informal (o segundo lugar é a venda de armas e o terceiro são prostituição e seus subprodutos). Nós roubamos, sim.

Nós roubamos diariamente a esperança e o sonho da maioria dos brasileiros de serem felizes e terem a pequena possibilidade de melhorar de vida pela nossa prática diária do crime de omissão. Nos escondemos de nós mesmos com um falso discurso: isso não tem nada a ver conosco, é problema do governo . Nós não nos interessamos em escolher bem nossos representantes e muito menos cobrá-los por resultados. Nós nunca nos rebelamos pelo fato de que o crédito só possa ser concedido a quem tenha bens para comprovar que possa pagar, o que nos garante que o crédito somente chegue as nossas mãos.

E tudo que fazemos é colocar grades, blindar nossos carros, dar uma cesta básica de vez em quando para redimir a pequena dor de nossas consciências. Nós legitimamos a competição entre nós mesmos para termos mais acumulação de bens e legitimamos a cultura do belo, magro,rico e jovem pois nesta estética e ordem social cultivamos a competição, o individualismo,a eficácia .Porém, deixamos de ser gente para virar produto a ser consumido .Mas, produto não sente afeto, daí essa imensa solidão que nos aflige. Somos assim. Há muito tempo somos assim. Mas, precisamos ser assim? Seremos sempre assim? Estamos felizes assim? É este o modelo de felicidade que queremos dar como herança aos nossos descendentes, quando sequer formos saudades? Se a resposta for sim, parabéns a nós todos. Conseguimos passar pela vida sem ter dado a ela um sentido. Teremos vivido intensamente sem profundidade e sem horizontes.

Se quisermos e depende unicamente de decisão de cada um de nós, poderemos dar um primeiro passo para transformações: Lutemos pelo ensino e saúde de qualidade com remuneração justa àqueles que cuidam do bem maior de um cidadão: sua saúde e seu saber. Lutemos para que arte e cultura cheguem aonde o povo está. Lutemos por uma Universidade pública e gratuita que garanta o fim da escravidão intelectual. Lutemos por bibliotecas em todos os bairros. Lutemos pelo transporte gratuito. Lutemos por crédito ao cooperativismo. Lutemos pela reforma agrária para que nossos irmãos possam voltar ao campo, ocupá-lo, com dignidade, com estímulo à agricultura voltada a saciar a fome de um povo escravizado. Lutemos pela ética para combater a corrupção em todos os níveis neste país. Lutemos por justiça para todos e não apenas a prisão para pobres e negros. Lutemos pelo fim do preconceito racial e discriminação social. Lutemos pelos direitos da pessoa portadora de deficiência. Lutemos pelo fim dos corporativismos e para que teçamos artesanalmente a unidade nacional.

Mas como lutar? Usando nossa voz, militando,gritando, ocupando as praças e abraçando uma causa. Nos reunindo e nos organizando.Se depois de toda uma vida de lutas, coletiva, árdua, nós conseguirmos pouco ou ainda que nada, teremos tentado, terá valido a pena viver já que ela terá tido sentido. Viver é uma oportunidade única, curta, maravilhosa e a felicidade é um compromisso que o ser humano tem que assumir e usufruir de forma coletiva. Nossas piscinas estão cheias de ratos e nossas verdades não correspondem aos fatos mas haverá um dia que o tempo parará para cada um de nós. Enfim é disso que eu queria falar: olhando-se no espelho, cara a cara com você mesmo, dá para você ser feliz sozinho? Felicidade é dar sentido a vida.

A conquista deste sentido se obtem na luta por justiça social e solidariedade humana.Somos todos muito jovens. Penso que é possível recomeçar a vida a partir de hoje. No verso de um poema de Edson Fly e Tereza Filha, do Movimento “Carangueijo Uçá” da Ilha de Deus que diz: Anoiteceu. E os sonhos foram todos destruidos. O castelo corroido, nosso lider tombou. O sangue,que de seu corpo corria em agonia, a mãe terra recebia, preparando os irmãos que ficaram à revolução. MST esta Luta é pra valer. Como dizia, com este verso, homenageio um grande amigo, Miguel Arraes, referencia política e ética do povo brasileiro.Mas como disse Borges, somos os que se vão, somos nuvens. A verdade é que se as dores físicas, psíquicas e sociais de cada um doessem em todos, com toda certeza nós já teríamos resolvido a questão da justiça social, da inclusão e da cidadania, porque afinal, gente é para brilhar, não prá morrer de fome. Muito obrigado pela presença, paciência e tolerância de todos.”

Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.
Com Informações da Assembléia Legislativa de Pernambuco.