Estudo sobre o Equilíbrio Emocional da Criança Brasileira: o que pensa, com que se preocupa, como age e o que espera do futuro foi realizada durante seis meses com 2.800 entrevistados de oito a 15 anos, das classes A, B e C, em 14 países e revela suas expectativas e aspirações com relação ao futuro, família, emprego, religião e relacionamentos
Elas nasceram navegando na internet, vendo TV por assinatura e usando celular. Possuem amigos virtuais que jamais encontraram. O que para os adultos pode ser um avanço da tecnologia da comunicação, para essas crianças é o único mundo que conhecem.
Suas expectativas e aspirações com relação ao futuro, família, emprego, religião e relacionamentos são completamente diferentes. Isso é o que revela a maior pesquisa com crianças já feita pela Nickelodeon, canal que existe há 27 anos nos Estados Unidos e há dez no Brasil, distribuído e comercializado pela MTV Networks International.
A pesquisa foi realizada durante seis meses com 2.800 entrevistados de oito a 15 anos, das classes A, B e C, em 14 países – Argentina, Brasil, China, Dinamarca, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Japão, México, África do Sul, Suécia, Inglaterra e Estados Unidos.
As crianças entrevistadas não eram necessariamente assinantes de TV por assinatura nem residentes em grandes centros. Agora, a Nickelodeon mostra pela primeira vez os resultados do estudo sobre o Equilíbrio Emocional da Criança Brasileira: o que pensa, com que se preocupa, como age e o que espera do futuro.
Os principais assuntos levantados: como o sentimento de segurança e o medo interferem na construção do comportamento dessas crianças; como é a sua relação com amigos, família e cultura; as expectativas de futuro, de oportunidade, como estas crianças são expostas e absorvem tudo isso. “As crianças são constantemente estimuladas por informações vindas de todas as partes e isso tem conseqüências profundas em suas vidas. Entender quais são os impactos da sociedade globalizada e de que maneira ela interfere na vida da criança de hoje foi o foco da pesquisa “Well Being – O Equilíbrio Emocional da Criança”, diz Beatriz Mello, responsável pelo Departamento de Pesquisas da Nickelodeon no Brasil.
“No mundo todo, a Nickelodeon está constantemente em contato com os desejos das crianças, para entender profundamente o seu estado de espírito e o que almejam. Agora, a programadora decidiu se aprofundar no tema equilíbrio emocional da criança”, diz Carolina Vianna, diretora de Marketing da Nickelodeon no Brasil.
Segundo ela, “o objetivo é analisar e comparar como fatores como globalização, estresse, relacionamentos, medos, aspirações futuras, etc. podem afetar sua vida em diferentes partes do mundo”, diz Carolina. “Os resultados são fascinantes e nos mostram claramente com o que se preocupam as crianças brasileiras, como agem e de que maneira esses fatores as afetam”, finaliza.
A pesquisa adota o conceito de Well Being como algo além do bem-estar físico. Mais do que isso, é o estado psicológico do indivíduo que permite o seu máximo desenvolvimento. Estar equilibrado é diferente de ser feliz (embora seja muito mais fácil ser feliz quando se tem um nível alto de equilíbrio emocional). Também não é estar totalmente isolado de situações de estresse, pois em pequena dose ele pode estimular conquistas. Já muito estresse tem o efeito contrário.
Critérios
O equilíbrio emocional é determinado por três critérios, que podem ser traduzidos em três perguntas: 1) Estou seguro? 2) De onde venho? 3) Para onde vou? A primeira pergunta é o fundamento mais básico do equilíbrio emocional e está relacionada ao instinto de sobrevivência e ao presente. A segunda pergunta tem a ver com os valores pessoais e a família. É a aceitação social. E a última diz respeito às conquistas pessoais, perspectivas de futuro, sempre baseadas em valores impostos pela sociedade.
Um dado relevante do estudo é que, embora as crianças pertençam a um mesmo mundo globalizado e estejam expostas às mesmas informações, marcas e culturas parecidas, o impacto é absorvido de forma diferente, dependendo do país em que elas vivem. E essa diferença se reflete no comportamento, na perspectiva de futuro e no seu desenvolvimento. A seguir, os dados da pesquisa.
Valores são dos pais
No Brasil, a família, principalmente os pais, é a principal fonte de transmissão de valores e tradições culturais. No entanto, a pesquisa revela que as crianças têm cada vez menos tempo de contato com eles. Elas crescem sozinhas. Com a ausência dos pais e a ajuda da tecnologia, conectar-se aos amigos se torna uma prática cada vez mais comum. Os sites mais visitados pelas crianças brasileiras são os de relacionamento (Orkut, MSN), canais de TV, jogos e personagens.
Para as crianças brasileiras, os pais são seus melhores amigos e, às vezes, o estresse dos próprios pais acaba afetando o relacionamento com os filhos.
É o terceiro fator que forma o equilíbrio emocional. Refere-se a como a criança enxerga suas perspectivas de futuro. A pesquisa revela que elas já estão, em sua esmagadora maioria, preocupadas com temas não pertinentes à sua idade e ligados ao sucesso.
Preocupação
Quando questionadas sobre o que as preocupa mais, 96% das crianças brasileiras disseram que é conseguir um bom emprego. Em seguida, aparecem Argentina e África do Sul, ambas com 80%, e México, com 73%.
As crianças dos países desenvolvidos são as que menos se preocupam em conseguir um bom emprego: Estados Unidos (25%), Dinamarca (11%), Japão (11%) e Suécia (9%).
As crianças do Brasil também lideram o ranking no quesito “me preocupa fazer meus pais felizes”, com 95%, número bem superior ao dos Estados Unidos (30%), da Dinamarca (10%) e do Japão (5%).
Estar acima do peso também é uma grande preocupação das crianças brasileiras. Das entrevistadas, 66% afirmam se preocupar muito em não serem gordas. Em seguida, vêm Índia (50%), México (41%), África do Sul (40%), França (29%), Estados Unidos (25%) e Suécia (13%).
Nacionalismo em primeiro lugar
Das crianças entrevistadas, as brasileiras lideram, com as da Índia e da Indonésia, o ranking das mais nacionalistas do mundo. 99% das crianças da Indonésia e da Índia disseram ser nacionalistas. O Brasil vem logo depois, com 98%; seguido da Argentina, com 94%, da África do Sul, do México e dos Estados Unidos, com 92%, e, por último, vem o Japão, com 30%.
Apesar de ser um dos mais nacionalistas, o brasileiro é o que mais acredita que a vida nos Estados Unidos é melhor, o que já revela um primeiro ponto de conflito interno. A criança brasileira fantasia que o estilo de vida americano possa ser melhor que a sua vida no Brasil. Só enxergam o lado positivo.
Estou seguro? Do que tenho medo?
Esse é o critério mais básico para formar o estado de equilíbrio emocional, pois está ligado ao instinto de sobrevivência. A globalização e a exposição a um grande número de informações vindas dos meios de comunicação tornaram as crianças mais expostas a perigos que não fazem parte do seu dia-a-dia.
Fatos distantes de sua realidade acabam por gerar medos e inseguranças desnecessários e extremamente maléficos a seu equilíbrio emocional. De todos os países pesquisados, as crianças brasileiras são as mais preocupadas do mundo com a sua segurança – 75%. A Indonésia vem em segundo lugar, com 68%, e a África do Sul em terceiro, com 67%. As crianças que menos se preocupam com segurança são as da Inglaterra (19%), da Dinamarca (17%), dos Estados Unidos (16%) e da Suécia (9%).
O maior medo das crianças no mundo é o da morte dos pais. No Brasil, esse medo está acima da média dos países pesquisados. A Indonésia lidera o ranking com 100%, seguida de Brasil, México e África do Sul, com 98%. As dinamarquesas são as que menos medo têm da morte dos pais (81%).
Um dado surpreendente é que, das crianças brasileiras entrevistadas, 87% têm medo de terrorismo, enquanto que, nos Estados Unidos, apenas 57% tem esse medo, na França, 55%, e na Inglaterra, 47%.
Dos países pesquisados, a Indonésia é o país cujas crianças têm mais medo de terrorismo: 93%. Segundo Beatriz Mello, embora o Brasil não vivencie de fato o terrorismo, para as suas crianças ele está extremamente presente, já que elas são bombardeadas o tempo todo por notícias internacionais.
“Explosões nos EUA, Espanha ou Inglaterra acabam ocupando um espaço importante no dia-a-dia das crianças brasileiras, como se elas estivessem no centro dos acontecimentos”, explica.
Sofrimento com a globalização
O estudo revela que como conseqüência, a criança brasileira é também a mais estressada do mundo. Ela é a que mais sofre os sintomas negativos da globalização. Sente-se mais insegura e, principalmente, preocupa-se mais em participar do mundo globalizado e corresponder às expectativas dos pais.
Ao responder à pergunta: O que você faz quando está estressado?, tanto as crianças brasileiras como as dos outros países entrevistados relaxam assistindo à TV e ouvindo música. No Brasil, chorar também é uma válvula de escape para o estresse. 32% das crianças brasileiras dizem chorar para liberar o estresse, enquanto que a média mundial é de 25%. “As crianças do mundo todo estão ficando cada vez mais sozinhas e, desse jeito, antecipam uma característica da adolescência, que é a solidão”, avalia Beatriz Mello.
Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
TEXTO: Jornal de Brasília (DF).