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O laboratório de nossa saúde

Quando se trata de saúde pública as pessoas costumam associar qualquer dificuldade ou sucesso aos serviços mais visíveis. Numa escala superficial, que qualquer um pode elaborar sem qualquer esforço, os serviços de emergência dos grandes hospitais tanto acumulam mais as críticas e as denúncias quanto mostram à população que está nas mãos dos especialistas em urgências o caminho da salvação nos piores momentos, de acidentes ou desastres naturais. Nessa mesma escala, seria surpreendente que alguém lembrasse o Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen), cujo papel, entretanto, vai muito além do seu quase anonimato.

Reportagem recente do Jornal do Commercio diminuiu um pouco desse anonimato expondo, em grande espaço, alguns aspectos pouquíssimos conhecidos dos problemas de saúde em nosso Estado. Por exemplo, ao dar conta de que o acúmulo de serviços e a falta de pessoal no Lacen atrasam os exames de dengue, tuberculose, aids e prevenção do câncer. Esse é um aspecto delicado que precisa ser mais discutido, mais exposto, até para que as políticas públicas de saúde o tenham como prioridade.

E isso é tanto mais urgente quando se elenca – como foi feito na reportagem – os principais problemas do Lacen: déficit de profissionais, estrutura física inadequada, evasão de servidores qualificados para o mercado externo, 130 funcionários com tempo de serviço e idade próxima da aposentadoria, insatisfação salarial, desvio de função, entraves burocráticos, deficiência no sistema de informação junto aos usuários, ausência de políticas oficiais para gestão de pessoas, falta de autonomia financeira para gerenciar seus recursos.

É muito, demais, para um só órgão público. E principalmente quando se trata de uma atividade-fim, de extrema importância para toda cadeia de atendimento de saúde pública. Surpreende que diante de tantos problemas tenha ainda o Lacen o currículo que tem. Ele está presente nos momentos e nas atividades que mais exigiram dos profissionais da área, inclusive em estudos mais sofisticados, de maior profundidade, que transcorrem longe das vitrines e, por isso, passam desconhecidos mas deixando uma grande contribuição à qualidade de saúde de todos.

Assim, por exemplo, quando coleta e processa material de pesquisa para mapear alterações genéticas em estudos destinados a combater a tuberculose, a doença que mais mata no mundo e que preocupa entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) diante do aumento da resistência às medicações, pela mutação genética do bacilo causador da doença. Quantos pernambucanos saberiam hoje que o Lacen atua nesse campo? Quantos lembram que a vitória expressiva da saúde pública brasileira no tratamento de um garoto infectado pela raiva aconteceu em Pernambuco e teve a participação do nosso Laboratório Central? Ou que foi através dele que o serviço público de saúde pôde enfrentar e conter um surto de diarreia em São Bento do Una, em 2004, com mais de dois mil casos? É claro que para isso o Lacen foi criado e é igualmente evidente que ele faz parte de um serviço que se notabiliza pela discrição porque trata com vidas humanas e não pode oferecer espaço a muita conversa sem resultados. Mas também está claro que pela importância de seu papel, até para que os demais segmentos do setor de saúde tenham melhores resultados, o Lacen merece mais atenção.

As dificuldades dos serviços de saúde no Estado, greves no setor e denúncias de mau atendimento ou falta de medicamentos deveriam, como contraponto, remeter todas as atenções para setores de referência como é o Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco. Assim, pela importância desse órgão público, cabe fazer um cotejo entre o papel que desempenha em relação à população do Estado e os principais problemas, que não são poucos, e daí se chegar à constatação óbvia de que é preciso lhe dar bem mais atenção do que tem.