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Leptospirose: doença da pobreza

Pesquisa realizada em Salvador, Bahia, por um professor de medicina dos Estados Unidos, Albert Icksang Ko, chegou a uma conclusão já fartamente conhecida mas sempre impressionante: a leptospirose é doença da pobreza. Há outras, muitas outras, mas essa particularmente também foi objeto de pesquisa no Recife, que virou um quadro do cotidiano exposto por nossa repórter Veronica Almeida, mostrando como o lixo e a pobreza expõem recifenses à doença do rato. Com nomes, lugares, fotos que personalizam o que os estudiosos concluem em pesquisas. De um lado, a abordagem científica, com base no estudo de uma comunidade carente da nossa capital. De outro, a reportagem expondo as evidências catadas nas ruas mais pobres do Recife, em personagens que carregam os dois estigmas sociais: a pobreza e a leptospirose.

O estudo na Bahia foi publicado em revista norte-americana sobre doenças tropicais e o autor do trabalho resumiu em poucas palavras o significado de uma doença da pobreza: “Além de identificar fatores de risco ambientais, como a falta de saneamento básico, o estudo mostrou que o nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença. Concluímos que o risco de infecção diminui em 11% a cada dólar a mais por dia acrescentado à renda familiar per capita”. A questão se situa, assim, numa ordem de fatores de risco como morar em condições subumanas, perto de esgoto a céu aberto, onde há lixo amontoado e exposto, e nas áreas de alagamentos, indicadores de pobreza, para não dizer miséria.

No Recife, a sanitarista Denise Oliveira desenvolveu pesquisa sobre a leptospirose e chegou às mesmas conclusões, comprovando a relação entre pobreza, lixo e doença do rato. Com esse trabalho, a sanitarista obteve o título de doutora em saúde pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Uma das suas conclusões: A chance de adoecer e morrer de leptospirose é três vezes maior nos bairros onde a população tem menor renda e as condições de saneamento são piores. Essa gravíssima conclusão está dimensionada nos mapas do Recife, como o que acompanha a reportagem deste jornal e os que mostram, no Plano Diretor da cidade, onde mais se concentram a pobreza e as doenças dela decorrentes.

Significa dizer: o mapa da doença da pobreza revela a tragédia recifense – porque a maior parte da população é pobre e vive em condições insalubres – e reproduz com perfeição um clássico modelo social do economista sueco Gunnar Myrdal, em sua teoria da dependência da América Latina: Pobre porque doente, doente porque pobre. A força desse ciclo trágico está exposta no estudo realizado em Salvador quando conclui que melhorar a infraestrutura sanitária não é suficiente para controlar a leptospirose numa favela, mas se exige a melhoria das condições socioeconômicas dos moradores. Assim no estudo de Denise Oliveira, que analisou fatores socioambientais e não deixa nenhuma dúvida da relação entre pobreza e leptospirose.

O que fica exaustivamente provado nesses e em muitos outros estudos sobre doenças que podem ser identificadas como “da pobreza”, é que se trata de um mal cuja cura independe dos esforços científicos. São doenças sociais, frutos da ignorância da população e da omissão dos poderes públicos. Coleta de lixo, saneamento e prevenção contra alagamentos em áreas urbanas e atendimento à saúde são atividades elementares de qualquer governante. Se os problemas persistem e se agravam, há de se cobrar deles. Assim como está exposto na apresentação do Plano Diretor quando mostra, claramente, que o problema da saúde está associado à qualidade ambiental: A precariedade ambiental em diversas partes da cidade é fruto da deficiência do saneamento básico, associado aos baixos rendimentos e graus de instrução da população.

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
Fonte: Jornal do Commercio (12.07.2009).