O Parque da Jaqueira, localizado no Recife, foi palco de uma manifestação pacífica na tarde de hoje. Cerca de cinquenta pais e mães de crianças diagnosticadas com leucemia linfóide aguda, a LLA, se reuniram e protestaram contra a distribuição, feita pelo Ministério da Saúde, da droga Asparaginase produzida na China. Isso porque o medicamento chinês não tem nenhum tipo de eficácia comprovada. Há décadas a droga é distribuída pelo Sistema Único de Saúde e a proveniência do medicamento costumava ser de origens alemã e japonesa. Inclusive nesses países o medicamento tem literatura técnica bem definida. De acordo com especialistas, o Asparaginase é fundamental no tratamento desse tipo de leucemia, pesquisas comprovam a cura de 90% dos pacientes que o utilizam. As entidades médicas – Cremepe e Simepe – participaram da ação.
Geraldo Leite Maia, professor, é pai de Felipe, 3, diagnosticado há um ano e sete meses com a LLA. Para o professor, a iniciativa de ir para a rua e expor a revolta contra a atitude do Governo Federal está diretamente ligada a preocupação quanto a saúde do filho. “Se o Ministério da Saúde mostrar uma pesquisa, qualquer que seja, comprovando a equivalência da eficácia da Asparaginase chinesa com a alemã e japonesa nos calamos e seguimos nossas vidas”, afirma.
O oncologista pediátrico Tadeu Calheiros também participou da manifestação. Para o médico ainda não é possível mensurar o quanto o medicamento sem eficácia comprovada pode piorar o tratamento das crianças. “A quimioterapia para o paciente com LLA é composta com multi drogas, então leva um tempo para sabermos se a Asparaginase chinesa está prejudicando ou não. Isso porque os outros medicamentos podem “disfarçar” algum malefício do fármaco produzido na China”, conta. Calheiros também afirma que o tratamento sem literatura clara pode, inclusive, ser finalizado e posteriormente a doença ser rescindida.
Cerca de trinta mil frascos de Asparaginase chinês, do laboratório Beijing SL Pharmaceutical, representado pela empresa uruguaia Xetley S.A, foram comprados pelo Ministério da Saúde no início do ano. Em contramão ao que acontece todos os anos, o órgão não fez licitação, valendo-se da lei que permite a dispensa em caso de emergência ou calamidade pública. Foi procurado então o melhor preço de venda do medicamento e o laboratório da China foi o escolhido.
O Centro Infantil Boldrini, localizado em São Paulo, abriu um inquérito no Ministério Público para tentar cessar a distribuição do medicamento. Uma ação em primeira instância foi ganha, garantindo que o Ministério da Saúde importe a droga alemã para o Instituto. Na decisão da ação, foi constatado pela Justiça Federal que não há literatura técnico-científica indexada, um único país faz uso do medicamento no mundo todo e que no local em que a estrutura física do representante do laboratório no Brasil ocupa atualmente, no teste de Espectrometria de Massa, constou a presença de muitos contaminantes.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica pediu ao Ministério que suspendesse o uso da droga em todo o Brasil até que fossem realizados estudos para comprovar sua eficiência e segurança, no entanto, ainda não obtiveram nenhuma resposta. A reportagem procurou o Ministério da Saúde para endagar sobre a então polêmica do medicamento, mas não obteve sucesso.