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Pesquisa de pernambucano sobre microcefalia sai em revista britânica

Crianças com microcefalia, provocada pelo zika vírus, têm desenvolvimento bem abaixo do que deveriam apresentar de acordo com a idade cronológica que possuem. Aos dois anos, elas demonstram habilidades equivalentes a bebês de três meses. A constatação do neurologista infantil Lucas Victor Alves foi publicada esta semana no British Medical Journal, um dos periódicos científicos mais respeitados sobre medicina. É o primeiro trabalho no mundo que avaliou o comportamento neurológico de crianças afetadas pelo zika. O estudo faz parte do doutorado que o médico pernambucano está realizando no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife.

“Verificamos que o desenvolvimento global dessas crianças corresponde ao observado em bebês de três meses, apesar delas terem idade cronológica de dois anos”, explica Lucas Alves. São observados quatro aspectos: linguagem, sociabilidade, coordenação motora fina e coordenação motora grossa. “Há atraso nelas nas quatro áreas. A mais comprometida é a linguagem. A menos é a social”, explica o neurologista. Com dois anos de idade, elas deveriam, por exemplo, andar, falar pequenas frases, pegar objetos. O que se observa é que elas apenas acompanham os movimentos com olhares, sorriem com estímulos, sustentam a cabeça.

Para publicação do artigo foram avaliadas 24 crianças, que estão sendo acompanhadas no Imip desde o nascimento e que passam regularmente por assistência multidisciplinar, com sessões de terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia. O estudo, entretanto, é mais amplo: abrange aproximadamente 70 pequenos cidadãos com microcefalia. A maioria reside na Região Metropolitana do Recife e pertence a famílias de baixa renda.

“São nos dois primeiros anos de vida que o cérebro mais se desenvolve, daí a importância da assistência maior nessa fase da vida. Concluímos que a síndrome congênita do zika vírus provoca uma lesão muito grave e infelizmente irreversível no cérebro dessas crianças. Não há cirurgia ou remédio que possa resolver. A microcefalia é um fator devastador no desenvolvimento neurológico delas”, comenta Lucas Alves. “É preciso dar bastante importância à prevenção do mosquito Aedes aegypti. A falta de saneamento básico é um problema grave no nosso País”, diz o médico.

EPILEPSIA

O estudo aponta também a alta incidência de epilepsia nas crianças. Apenas um paciente, entre os 24 que fazem parte da pesquisa, não tem crises. As convulsões são consequência dos danos provocados pela má formação cerebral. A maioria precisa tomar remédio controlado para diminuir as crises. Segundo o neurologista, outra constatação é que mais da metade das crianças foi internada em hospitais nesses dois primeiros anos de vida para tratar pneumonia, refluxo ou outras doenças.

Lucas Alves conta que agora estão sendo realizadas ressonâncias magnéticas nos crânios das 70 crianças. ““Vamos ver a evolução do cérebro. Queremos comparar com os exames que foram feitos quando elas nasceram. Ver o que foi formado, o que não se formou, o que foi alterado”, explica o médico. Os resultados serão enviados para análise de um radiologista americano da Universidade John Hopkins, localizada no Estado de Maryland. A pesquisa tem financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates e é orientada pelo médico João Guilherme Alves, um dos diretores do Imip.