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CFM debate desafios da formação médica no IX Fórum Nacional de Ensino Médico

Teve início na manhã desta quinta-feira (16), em Brasília, o IX Fórum Nacional de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM), que discutiu a qualificação dos professores das faculdades de medicina. Na abertura, o presidente do CFM, Carlos Vital, ressaltou a importância de se debater a formação dos docentes como forma de melhorar o ensino médico. “O país está atravessando uma situação difícil, mas podemos, juntos, com planejamento e vontade política, melhorar a qualidade do aparelho formador do ensino médico”, argumentou.

Também presente na mesa de abertura, o coordenador da Comissão de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM), Lúcio Flávio Gonzaga Silva, usou uma passagem do livro Alice no País da Maravilha em que ela pergunta ao gato Cheshire sobre o melhor caminho a seguir e ele responde que ela deveria saber para onde queria ir, caso contrário não chegaria a lugar nenhum. “O mesmo se aplica às escolas médicas. Se não tivermos clareza para onde queremos ir, corremos o risco de chegarmos a um lugar indesejado. O problema é que entregaremos para a sociedade um médico mal formado, o que constitui um grande risco para a sociedade”, argumentou.

Também participaram da mesa de abertura, o secretária-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica, Rosana Leite de Melo; a diretora da Associação Médica Brasileira Márcia Sakai; o presidente da Federação Brasileira das Academias Médicas (FBAM), José Roberto de Souza Baratella e a presidente da Associação Brasileira dos Hospitais Universitários (Abrahue), Mônica Almeida Neri.

Programação – Nos dois dias do IX Fórum, foram realizados painéis e grupos de trabalho, que debateram os problemas na formação dos docentes e propor soluções. Na manhã de quinta-feira foram realizados painéis sobre temas como “Competência para a docência”, “Avaliação para a docência”, “A gestão acadêmica e programas de desenvolvimento docente” e “Mérito Acadêmico”, além de uma conferência do ex-reitor da Universidade Federal do Ceará Jesualdo Pereira Farias.

A professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFRJ Eliana Cláudia Ribeiro falou sobre competência para a docência. Em sua palestra, ela argumentou que existem dois tipos de docência, uma abordagem atomista, baseada em conhecimentos que o aluno deve assimilar e acumular, e outra holística, preocupada nas competências profissionais. “Nesta visão, a pessoa deve ter a capacidade de mobilizar os conhecimentos adquiridos e aplicá-los em situações concretas”, explicou Eliana, que defende um ensino médico holístico, baseado na aquisição não-linear de conhecimentos.

O professor da Unifesp Nildo Alves Batista, que falou sobre avaliação para a docência, defendeu um envolvimento maior dos professores, “que muitas vezes não conhecem o projeto pedagógico da instituição em que estão inseridos”. Para Batista, a docência tem uma função muito ampla “somos facilitadores, assessores, planejadores, provedores de informações e, principalmente modelos para nossos alunos”.

As dificuldades para encontrar professores para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Rondônia (Unir) foram destacadas pelo professora dessa faculdade Ana Lúcia Escobar, responsável pelo painel “Gestão Acadêmica e Programas de Desenvolvimento Docente”. “A forma que estamos encontrando para superar este problema é incentivando os atuais graduandos para que eles depois voltem para a instituição como professores”, contou. Outro desafio é a formação do professor. “O problema é que a Lei de Diretrizes Orçamentárias não prevê a adoção da formação didático-pedagógica como pré-requisito para acesso e progressão na carreira e os professores se negam a participar dos cursos de aperfeiçoamento”, argumentou.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)) José Sebastião dos Santos, responsável pelo painel sobre mérito acadêmico, relatou que a sua instituição também enfrenta dificuldades para atrair professores, principalmente com dedicação exclusiva. “Tivemos vários editais desertos”, enumerou. Em sua fala, ele explicou quais são os critérios para a progressão na carreira na FMUSP. “Depois de um grande trabalho de convencimento, conseguimos que fosse aceito o nosso argumento de que deveriam existir critérios diferentes, pois os critérios de produtividade de um professor que trabalha com ciência básica e outro que está no centro cirúrgico são diferentes”, explicou.

Os painéis foram seguidos pela apresentação de uma conferência do ex-reitor da UFC Jesualdo Pereira Farias, que falou sobre o tema “Docente de hoje e visão do futuro”. Farias criticou marcos regulatórios que impedem a inovação e avanços em sala de aula, como o impedimento de que professores estrangeiros atuem em mais de uma universidade e as barreiras ao uso do ensino à distância. Também defendeu mudanças no ensino. “O professor não deve se ater apenas ao ensino. Não adianta apenas ensinar conteúdo ao aluno. É preciso que ele desenvolva habilidades como criatividade e flexibilidade”, defendeu.

À tarde, os participantes do IX Fórum de Ensino Médico se reuniram em grupos de trabalho para debater os temas discutidos nos painéis.

Nesta sexta-feira (17), as atividades começaram com a conferência “Desenvolvimento do Projeto Sistema de Acreditação das Escolas Médicas (Saeme)”, apresentado pelo coordenador executivo do projeto e professor da USP, Milton de Arruda Martins. Em seguida, secretária-executiva do Saeme, Patrícia Zen Tempski, apresentou os dados atuais do projeto. As propostas aprovadas nos grupos de trabalho, apresentadas pelos coordenadores desses grupos a partir das 10h, vão subsidiar encaminhamentos do Conselho Federal de Medicina (CFM) para a melhoria do ensino médico. O produto final do IX Fórum foi a elaboração do III Caderno de Ensino Médico do CFM.

Caderno – Durante o IX Fórum de Ensino Médico, foi lançado o segundo número do “Caderno de Educação Médica – Formação em medicina no Brasil: cenários de prática, graduação, residência médica, especialização e revalidação de diplomas”, que faz um resumo dos debates realizados no VIII Fórum de Ensino Médico, promovido em setembro do ano passado. O caderno, que foi elaborado pela equipe de relatores do VIII Fórum de Ensino Médico e organizado pela professora Hermila Tavares Vilar Guedes, está dividido em três eixos: proliferação indiscriminada das faculdades de medicina, residência médica e revalidação de diplomas. O Caderno pode ser acessado aqui.