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Mais de 1,4 mil pacientes aguardam por órgão na fila de transplantes em Pernambuco

A enfermeira Carla Ribeiro, de 33 anos, viveu durante sete anos a angústia de estar em uma fila aguardando por um órgão. Após sofrer complicações em uma cirurgia de retirada de pedras na vesícula no ano de 2006, ela precisou realizar transplante de fígado. Por causa da gravidade do caso, Carla passou por uma avaliação da junta médica da Central de Transplantes de Pernambuco. Somente em 2013 ela conseguiu realizar a cirurgia. Hoje, a história de superação serve de exemplo. Na coordenação do setor de transplantes pediátricos do Hospital Oswaldo Cruz, ela revive sua própria história e encoraja seus pacientes.

“Muitas vezes eu me vejo naquela mesma situação de novo. É um desafio constante encarar uma realidade que eu mesma já vivi. Muitos enxergam um exemplo na minha história porque percebem que o transplante dá certo e que o seu parente querido não partiu em vão porque tem alguém que vive através de um órgão dele que foi doado. Então graças a chance que alguém me deu, eu pude superar, voltar a trabalhar e conviver com essa missão de ajudar e confortar outras pessoas”, comentou a enfermeira.

Pernambuco tem 1.448 pacientes aguardando transplante de órgão. A maior fila é a de rim, com 1.087 pessoas, seguida de córnea (188), fígado (113), medula óssea (29), coração (17) e rim/pâncreas (14). No período de janeiro a outubro foram realizados 1.378 transplantes. Desse total, foram 647 de córnea, 324 de rim, 210 de medula óssea, 133 de fígado e 39 de coração. Todos esses procedimentos passaram por profissionais da Central de Transplantes de Pernambuco (CTPE), desde o diagnóstico de um possível doador, ao serviço de captação de órgãos e o transplante. Nesta quinta-feira (12), o CTPE comemora 25 anos tendo feito mais de 20 mil cirurgias deste tipo.

A lei brasileira permite a doação de órgãos e tecidos apenas após autorização de parentes de até segundo grau. E a resistência das famílias em consentir a doação ainda é o maior entrave encontrado pelas equipes do CTPE, chegando em torno de 50% dos casos de diagnóstico por morte encefálica. “É muito importante conscientizar a população porque o maior desafio é reduzir as taxas de recusa. Pernambuco mostra que tem capacidade para transplantar muito mais. Então sensibilizar a comunidade é essencial para aumentar a capacidade do estado e resolver o problema dos 1,4 mil pernambucanos que sofrem nas filas”, afirma o secretário estadual de Saúde, André Longo.

Segundo a análise feita no terceiro trimestre deste ano pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), Pernambuco ocupa o primeiro lugar no Norte e Nordeste no número de procedimentos de coração, rim, pâncreas e medula óssea. “Temos uma história concreta de avanços que nos dá ânimo para continuar crescendo a política de transplante. O estado vem se destacando, se tornando referência nesse tratamento de alta complexidade. Todo cidadão deve ter o direito da doação garantida dentro das unidades hospitalares. Para isso, precisamos fortalecer essa política”, diz a coordenadora da CTPE, Noemy Gomes.

A fila é maior sobretudo dos pacientes em diálise. De acordo com o nefrologista Amaro Andrade, a fila é maior à espera de um novo rim porque existe um tratamento que mantém o paciente estável enquanto aguarda pela cirurgia. “A gente tem uma forma de tratamento que permite ao paciente permanecer vivo enquanto está na fila de espera. Para uma única doença são apenas duas formas de tratamento: a diálise ou o transplante. No que diz respeito ao coração ou ao fígado, por exemplo, os pacientes morrem enquanto esperam. Por isso precisamos conscientizar a população sobre a necessidade da doação”, explica.

Além da doação de órgãos e tecidos após a morte, também é possível doar parte de órgãos como rim, fígado e pulmão, além da medula óssea durante a vida. Nesse último caso, quem se interessar, deve ir ao Hemope para fazer seu cadastro e coleta de uma amostra de sangue, para a realização dos exames de compatibilidade. Em Pernambuco, o cadastro do doador de medula óssea é feito nas unidades do Hemope do Recife, Caruaru, Garanhuns, Serra Talhada, Arcoverde, Ouricuri e Petrolina. Para ser um doador, o interessado, que deve ter entre 18 e 55 anos, participa de uma palestra sobre o assunto e assina um termo de consentimento, além de preencher uma ficha com informações pessoais.