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Caravana mostra radiografia do Estado

O Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) concluíram, no dia 28 de março, a última etapa da Caravana do Cremepe. Mais uma vez o paronama não é animador. A realidade de cerca de 80% dos municípios do Estado, com menos de 30 mil habitantes, é bem diferente do encontrado na Região Metropolitana do Recife: um cenário de miséria, exploração e falta de acesso a direitos básicos. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (31.03).

Nas unidades de saúde e hospitais foram constatadas falta de remédios, escalas furadas, insulficiência de profissionais e infra-estrutura deficiente. “Unidades de saúde utilizam medicamentos e espectros vaginais vencidos e em um dos casos, a aparelhagem médica instrumental é esterelizada numa panela de pressão”, afirma o médico fiscal do Cremepe, Otávio Valença.

Outro dado preocupante são as taxas de cesárias que variam entre 32 e 36% dos partos, o que constitui índice elevado, e a quase inexistência de políticas públicas na área do planejamento familiar, tão caro à promoção da saúde da mulher.

Além disso, os caravaneiros ainda relatam a precariedade dos transportes escolares, geralmente feitos por paus-de-arara, e a merenda escolar de baixa qualidade, dado que os municípios recebem apenas R$ 0,22 por criança/dia. Ressalta-se também a grande incidência de prostituição infantil, em todas as cidades visitadas. “Em alguns lugares, pais alugam seus filhos por R$ 2 a noite e, em outros, o sexo oral custa R$ 0,10.”, diz Ricardo Paiva, coordenador da Caravana.

De igual significância é a situação do acesso à água que, na maioria dos municípios, só é fornecida a cada 7 ou 15 dias. O caso mais grave foi constatado em Alagoinha, onde a população está sem água nas torneiras desde outubro do ano passado. Destaca-se também a chegada do tráfico e consumo de crack no interior, que, sendo mais barato que a maconha, abre espaço para o envolvimento de crianças de oito a dez anos, participantes armadas de organizações criminosas e, igualmente, usuárias de drogas.

Durante o tempo de passagem da Caravana em cada município, foram realizadas fiscalizações nos hospitais e unidades de saúde e entrevistas com gestores, conselheiros municipais e tutelares e com a população nas ruas. Ainda foram distribuídas as cartilhas de direitos dos usuários do SUS e de humanização da saúde, além da divulgação do número 100 do disque-denúncia contra abuso e exploração sexual de crianças e adoslescentes, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Segundo o vice-presidente do Cremepe, André Longo, a Caravana não tem caráter transformador, mas objetiva conhecer a realidade do povo pernambucano e alertar acerca das necessidades extremas. “Os municípios de Carnaubeira da Penha e Manari, este com o pior IDH do Brasil, precisam de intervenções urgentes”, reitera Ricardo Paiva.

O Cremepe encaminha agora o relatório com os dados da Caravana para os Governos Estadual e Federal, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da Saúde, Congresso Nacional e entidades nacionais e internacionais ligadas à área da saúde. Além disso, os caravaneiros pretendem produzir um filme, a ser exibido nos próprios municípios, a fim de promover debate e conscientização da população.

ESPERANÇA – Em meio a esse cenário, o município de Carnaúba se destaca de forma positiva. Obteve uma boa avaliação em relação às escolas e hospitais e possui uma escola de música, funcionando para 320 alunos e com 100 vagas para alunos de cidades vizinhas.

PROJETO – A Caravana foi criada há quatro anos e têm como objetivo alertar as pessoas, as autoridades e a sociedade civil organizada dos principais problemas enfrentados pela população de Pernambuco, não só na área da saúde, como também educação, violência, igualdade racial, drogas, geração de renda, protituição e abuso sexual.

Em 2008, foram visitadas 37 cidades do Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife, completando assim o panorama, traçado em 2005, de 184 municípios do Estado. Além de médicos e funcionários do Cremepe e Simepe, participaram da Caravana estudantes de Psicologia, Fisioterapia, Enfermagem, Jornalismo, Direito, profissionais de arte, de saúde, representante de etnias indígenas, movimentos populares de comunidades, promotores, delegados, advogados, jornalistas e antropólogos.

Leia mais sobre a Caravana em:
http://portal.cremepe.org.br/publicacoes_noticias_ler.php?cd_noticia=2018
http://portal.cremepe.org.br/publicacoes_noticias_ler.php?cd_noticia=2002
http://portal.cremepe.org.br/publicacoes_noticias_ler.php?cd_noticia=1990
http://portal.cremepe.org.br/publicacoes_noticias_ler.php?cd_noticia=1958
http://portal.cremepe.org.br/publicacoes_noticias_ler.php?cd_noticia=1926

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe

Jornal do Commercio – 01.04.2008

Caravana revela miséria no interior

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) divulgaram ontem, o resultado do projeto Caravana do Cremepe. Uma radiografia dos 184 municípios pernambucanos visitados pela iniciativa nos últimos quatro anos. O resumo do que foi visto pela caravana é um panorama de miséria, concentrada sobretudo nas cidades com menos de 30 mil habitantes no interior do Estado.

“O projeto Caravana do Cremepe não se limita a averiguar as condições de atendimento médico das cidades pernambucanas. Nossa ação foi além disso e acabamos fazendo um grande retrato de cada município. O que encontramos foi uma população totalmente abandonada, sendo humilhada diariamente e sem consciência de seus direitos mais básicos”, explicou o coordenador da Caravana e conselheiro do Cremepe, Ricardo Paiva.

Entre os problemas listados pelo levantamento do Cremepe estão o transporte de crianças em paus-de-arara, unidades de saúde sem médicos e sem medicamentos da chamada farmácia básica, cidades sem acesso asfaltado, alta mortalidade infantil e baixa escolaridade.

“Encontramos casos gritantes de exploração sexual de crianças e adolescentes. Casos de meninas que eram vendidas pelos pais a troco de R$ 2. Municípios que têm sua economia atrelada ao pagamento dos servidores públicos, dos aposentados e dos que recebem o Bolsa-Família”, continuou Paiva.

Para o vice-presidente do Cremepe, André Longo, a caravana não tem a pretensão de transformar as cidades por onde passou, mas a iniciativa é uma forma de não deixar que as autoridades possam ter a desculpa de dizer que ignoram os problemas. “Nosso levantamento é um alerta para a sociedade civil e uma forma de cobrar do poder público providências diante do que presenciamos”, destacou Longo.

O presidente do Sindicato dos Médicos, Mário Lins, assegurou que o projeto não se encerra com a visita às 184ª cidades. A idéia é que o trabalho social das entidades médicas permaneça utilizando instrumentos nos moldes da caravana. “A contribuição que podemos dar através dessa iniciativa está mais do que provada e por isso não vamos deixar a idéia morrer”, concluiu Lins.

A Caravana do Cremepe foi iniciada em 2005. Em 2008, 37 cidades foram visitadas no Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife. Participavam da iniciativa, além dos médicos ligados ao Cremepe e Simepe estudantes de psicologia, fisioterapia, enfermagem, jornalismo, direito, profissionais de arte, de saúde, representante de etnias indígenas, movimentos populares de comunidades, promotores, delegados, advogados, jornalistas e antropólogos.

Folha de Pernambuco – 01.04.2008

Cremepe faz diagnóstico da saúde

Caravana encontrou irregularidades como remédios vencidos em hospitais

MIRTHYANI BEZERRA

Faltam médicos, remédios e infra-estrutura de qualidade nas unidades de saúde do Interior de Pernambuco. O alerta foi dado pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), ontem, durante coletiva na sede do órgão, quando representantes do Cremepe e Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) mostraram os resultados da campanha realizada pela entidade nos últimos três anos e encerrada no dia 28 deste mês. Nos 184 municípios visitados foram identificadas irregularidades nos contratos de trabalho, precariedade na oferta de medicamentos, falta de materiais de urgência (como desfribilador para o caso de parada cardíaca), má remuneração de funcionários, principalmente nos postos de responsabilidade dos municípios.

Segundo o médico fiscal do Cremepe, Otávio Verçosa, em alguns locais os profissionais de saúde recebem remuneração abaixo do piso salarial. “Muitos deles se contentam com cerca de R$ 110 por mês. Além disso, percebemos que não havia médicos plantonistas pela desorganização nas escalas de trabalho, ou seja, enquanto um médico terminava seu plantão às 7h, o outro só começava a atender por volta das 12h. Nesse intervalo, a população não tinha atendimento”, contou. O médico também afirmou que também foram encontrados medicamentos vencidos e problemas com o destino dos resíduos hospitalares. “Na cidade de Venturosa, por exemplo, as placentas, em vez de serem incineradas após o parto, eram enterradas atrás da unidade de saúde”, exemplificou.

O coordenador de Ações Sociais do Cremepe, Ricardo Paiva, afirmou que, através do contato com os habitantes do Interior – que correspondem a 30% da população do Estado -, a equipe pode perceber que faltam exames mais complexos nas unidades de saúde. Paiva ainda explicou que a pesquisa também investigou questões ligadas à educação, segurança, saneamento, consumo de drogas, prostituição e abuso sexual infantil. O coordenador ainda afirmou que o relatório com os dados colhidos pela caravana será entregue em abril ao governador do Estado, à Secretaria de Estadual de Saúde, ao Ministério da Saúde, Congresso Nacional e entidades nacionais e internacionais ligadas à saúde.

GOVERNO
O gerente geral de Assistência à Saúde do Estado, Tiago Feitosa, afirmou que o Estado tem estimulado os governos municipais a investir na saúde. “Em 2007, fizemos diversas reuniões nas regionais para discutir com os municípios problemas relacionados à oferta dos serviços de assistência médica e construir soluções conjuntas. Além disso, criamos o Programa de Incentivo à Atenção Primária, para enviar recursos a esses locais”, disse.

Sobre as unidades de saúde estaduais, o gerente admitiu que existem dificuldades para impedir que a população procure os hospitais da Região Metropolitana do Recife para atendimentos de média e alta complexidade. “Em 2007, realizamos três seleções para preencher a demanda de profissionais nos hospitais regionais, além disso já gastamos R$ 50 milhões na compra de novos equipamentos e R$ 20 milhões em reformas estruturais”, explicou. Ele disse ainda que a grande dificuldade dos hospitais regionais é a sobrecarga de atendimentos de baixa complexidade que deveria ser feitos nas unidades de atenção básica do município.