O parasita da malária, responsável por quase 3 milhões de mortes humanas a cada ano, pode estar prestes a ganhar um inimigo insuspeito. Pesquisadores nos Estados Unidos descobriram que um velho medicamento contra alergia é capaz de enfrentar com eficácia o causador da doença.
O teste, por enquanto, só foi feito in vitro e em camundongos de laboratório infectados com o Plasmodium, microrganismo causador da malária. “Precisamos descobrir, por exemplo, qual seria a dose e o período de tratamento ideais [para pessoas]”, explicou à Folha David Sullivan, médico da Universidade Johns Hopkins e coordenador do estudo.
Mesmo assim, por mostrar o potencial de um remédio genérico, barato e amplamente disponível no Terceiro Mundo, o trabalho traz esperança renovada para o combate à epidemia.
O enfoque adotado por Sullivan e companhia no trabalho, que saiu on-line ontem na revista científica “Nature Chemical Biology”, não poderia ser mais singelo. Eles aproveitaram uma lista de quase 2.700 medicamentos de uma biblioteca química da Universidade Johns Hopkins, raciocinando que seria mais fácil e barato descobrir “múltiplas utilidades” em compostos já existentes do que criar um novo do zero.
“Usamos um teste-padrão de inibição do parasita para ver qual desses compostos poderia funcionar contra ele”, conta Sullivan. Do teste, automatizado e em tubo de ensaio, emergiram vários candidatos promissores. Os melhores passaram pelo teste de enfrentar dois tipos de Plasmodium no organismo de camundongos infectados. Nesse caso, não se tratava do parasita P. falciparum, principal causador da malária em seres humanos, mas de parentes dele que conseguem infectar os roedores.
O vencedor
“No fim das contas, o que se saiu melhor foi a astemizola, porque tem uma meia-vida longa [ou seja, age por tempo prolongado no organismo] e poucos efeitos colaterais”, diz Sullivan. O medicamento costumava ser usado para tratar rinite alérgica, mas os pesquisadores descobriram que, ao ser absorvido e transformado pelo organismo, ele pode “matar de fome” o Plasmodium.
Explica-se: numa das fases de seu ciclo de vida, o microrganismo se aloja nos glóbulos vermelhos do sangue e ali se multiplica. Mas, para isso, ele precisa da hemoglobina, o pigmento dos glóbulos vermelhos. O problema (para o parasita, bem entendido) é que parte da composição da hemoglobina é tóxica para ele. Para resolver o dilema, o Plasmodium descarta a parte tóxica produzindo cristais. E é justamente isso que a astemizola o impede de fazer.
E faz bastante bem, pelo visto. Em cepas normais do parasita, a redução do número de plasmódios nos camundongos chegou a 80%. Já cepas resistentes à cloroquina (um dos principais remédios usados hoje contra malária) tiveram sua população reduzida à metade. Como a cloroquina anda sofrendo justamente com o problema da resistência, a alternativa seria bem-vinda.
Sullivan e seus colegas ressaltam que o remédio já é vendido como genérico em vários países onde a malária é endêmica, como Camboja, Tailândia e Vietnã. Quando usado como antialérgico, ele registrou um número baixo de efeitos colaterais ligados à arritmia do coração, o que sugere que talvez haja espaço para melhorar a composição dele.
Da Assesoria de Comunicação do Cremepe.
Com informações da Folha Online.







