A procura excessiva das mulheres por produtos anti-rugas e cápsulas rejuvenescedoras pode fazer com que muitos pensem que entrar na terceira idade seja assustador apenas para o sexo feminino. Mas, uma pesquisa feita pelo Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz, coordenada pela socióloga Dália Romero, mostra que os homens têm mais dificuldade para encarar os desafios que chegam com o avanço da idade. O estudo foi realizado através de fontes oficiais do Ministério da Saúde e teve como base a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD).
Os dados revelam um embate de comportamento e de estilo de vida. De acordo com a socióloga, o envelhecimento não está ligado à vaidade, mas a questões culturais e de saúde. No Brasil, a expectativa de vida das mulheres é maior do que a dos homens. Enquanto elas vivem, em média, 75 anos enquanto seus parceiros vivem 67 anos.
“Essa diferença na expectativa de vida é causada por fatores culturais relacionados à violência, a acidentes de trânsito e ao abuso de álcool ou de fumo, que os homens estariam mais sujeitos”, afirma Dália. Além disso, segundo a socióloga, os homens vão menos ao médico, deixando de prevenir algumas complicações de saúde.
“A negligência masculina em buscar um médico faz com que os homens sejam responsáveis por um maior número de internações em situações graves e procurem mais os serviços de emergência”, alerta a socióloga.
De acordo com o estudo, o número de mortes entre os homens é maior do que entre as mulheres não apenas na terceira idade, mas em todas as faixas etárias. Os dados apontam que a cada quatro mortes de indivíduos entre 20 e 29 anos, três são de homens.
Dados do PNAD mostram que enquanto oito em cada dez mulheres vão ao médico, apenas cinco entre cada dez homens checam sua saúde. Outro levantamento ligado à saúde dos idosos mostra que, em São Paulo, por exemplo, apenas 20% dos homens acima dos 65 anos nunca fumaram, enquanto o índice feminino é de 80%.
Dália lembra ainda que os homens raramente conseguem viver sozinhos após os 65 anos, o que reforça a dificuldade dos homens em envelhecer. Para eles, a aposentadoria significa perder sua função social, caindo no sedentarismo e por isso fica mais sujeito à depressão.
“O envelhecimento está ligado diretamente à questão cultural. Hoje em dia, mesmo com todas as mudanças, as meninas são educadas para cuidar do lar, ser carinhosas. O homem, ainda é o provedor da família, é o sadio, a fortaleza da casa. E isso tem grande peso na hora de enfrentar uma incapacidade, ou doença, e o envelhecimento em si”. O homem que passa a vida inteira preocupado com o trabalho perde um pouco o rumo quando não tem mais uma ocupação fixa.
“A nossa sociedade não prepara o homem para ficar em casa e cuidar dos filhos, muito menos em se ocupar com atividades domésticas ou artesanais. Ele fica sedentário e sem perspectiva porque não sabe fazer muito além do que a atividade profissional que exercia antes”, destaca.
A pesquisadora aponta que outra desvantagem do homem para encarar a terceira idade está na alta capacidade de a mulher usar a rede de apoio como a família, os amigos, a igreja etc.
“A mulher está muito mais ligada à família. O fato de os homens se divorciarem mais após os 60 anos e casarem com mulheres muito mais jovens também debilita a rede de apoio. Ele corre o risco de, quando ficar doente, acontecer uma nova separação. E aí volta a problemática com a família, porque ele perdeu o vínculo com os filhos, tem dificuldade para morar sozinho e não tem desembaraço para as atividades domésticas”, diz.
Uma sugestão da socióloga para fazer a chegada da terceira idade menos traumática para os homens é trabalhar o clico da vida desde cedo e mudar a construção da subjetividade do compromisso do homem e da mulher na sociedade.
“É preciso uma nova educação. A sociedade não sabe envelhecer. Temos uma cultura do imediato, da aparência. Não somos culturalmente educados para pensar em etapas posteriores da vida. É preciso modificar o papel do homem na sociedade. Isso é fundamental para um bom envelhecimento”, conclui.
De acordo com a pesquisa da Fiocruz, o número de mulheres a mais do que o de homens, em 1980, estava em cerca de um milhão, e em 2000, já atingia a casa dos três milhões. Já para 2050, a estimativa é de que o excedente feminino no país ultrapasse a casa dos oito milhões.
Da Assessoria de Comunicação do Cremepe
Com informações da Agência O Globo.







