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Estudantes de medicina da UPE em Garanhuns enviam carta ao Cremepe

Os estudantes de medicina da primeira turma da Universidade de Pernambuco (UPE) – Campus Garanhuns enviaram carta ao Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Pernambuco) apontando os principais motivos e os pontos de reivindicações pelos quais decidiram entrar em greve no último dia 28 de maio por tempo indeterminado.

No documento, eles alegam que desde o início do curso estão passando por “dificuldades de ordem estrutural e psicológica que impedem a graduação de forma minimamente digna e dentro dos padrões aceitáveis pelo Ministério da Educação (MEC)”. Confira abaixo a carta na íntegra:

Carta ao CREMEPE

Nós estudantes da primeira turma de Medicina da Upe-Campus-Garanhuns vimos por meio desta, mostrar nossos principais motivos e os pontos de reivindicações pelos quais decidimos entrar em greve por tempo indeterminado.

Desde o início do curso nós alunos da primeira turma de Medicina da UPE-Garanhuns estamos passando por dificuldades de ordem estrutural e pedagógica que impedem a graduação de forma minimamente digna e dentro de padrões aceitáveis definidos pelo MEC.

A seguir os principais pontos que reivindicamos:

1. Efetivação do Hospital Universitário de Ensino: Não há curso médico sem um hospital qualificado para atender ao currículo de Medicina. A carga horária mínima do estágio curricular ou internato é no mínimo 35% da carga horária total do Curso de Graduação em Medicina, com atividades em todos os níveis de atenção à Saúde de acordo com a necessidade em cada área. A prioridade do internato/estágio é a prática correlacionada à teoria. E o ensino, a pesquisa, a assistência em Saúde e o suporte para programas de pós-graduação são proporcionados pelo Hospital Universitário de Ensino (HUE). Isso fortifica o SUS e é essencial para a formação qualitativa dos profissionais de saúde. E, como atividade estratégica para o Estado de Pernambuco – no HUE para o curso de Medicina UPE-Garanhuns – poderão ocorrer pesquisas clínicas relacionadas, por exemplo, à avaliação de uma nova tecnologia antes de sua incorporação ou ainda servir como política pública em Saúde para os interioranos que, buscam assistência médica (muitas vezes de procedimentos simples, mas inexistentes por falta de estrutura hospitalar eficiente no interior do estado) na Região Metropolitana do Recife (RMR), afogando o sistema de saúde dessa RMR. Em última análise, investimentos em prol do HUE resultam em assistência de elevada qualidade e produção de conhecimento científico no interior de Pernambuco, sem os vícios que maculam o Sistema Único de Saúde;

2. Verificar Possíveis Terrenos para Construção de Hospital Universitário de Ensino: O Hospital Regional Dom Moura foi ventilado como sendo o HUE e ao contrário do que está sendo dito pela cúpula da UPE em entrevistas e pela própria Secretaria de Ciência e Tecnologia (SECTEC), não há até o momento nenhum esforço no sentido de transformar o hospital que nos foi dito que seria nosso campo de atividade prática, o Hospital Regional Dom Moura (HRDM) em Hospital Universitário de Ensino (HUE); nem sequer um convênio com o aludido hospital para as nossas visitas a universidade possui. Procedimentos básicos e atendimentos de alta complexidade poderão ser efetuados no próprio Hospital Regional Dom Moura quando da sua real transformação em Hospital Universitário de Ensino. Contudo, fatores como um possível tombamento, devido ao valor histórico-cultural do prédio do HRDM, limitam a reforma desse hospital à Universitário de Ensino. Nessa condição, é necessária a busca de novos terrenos para a construção eficaz de um HUE e evitar aspectos de empecilho a reforma do HRDM ou de improviso que tanto prejudicam a formação médica bem como desfavorecem a assistência médica de qualidade;

3. Concurso para Quadro Permanente de Professores: O número atual de professores é insuficiente para atender todo o curso médico. Além disso, os professores permanentes são quem de fato fomentam o tripé universitário “Ensino, Pesquisa e Extensão”, imprescindível para a formação curricular do futuro profissional médico. Isso também possibilitará a promoção de cursos periódicos de capacitação em preceptoria dos profissionais da rede de saúde da cidade de Garanhuns, evitando a disseminação, para os alunos, dos “vícios do sistema de saúde” incoerentes com a boa prática médica;

4. Concurso para Técnicos de Laboratórios: Muitas vezes, os estudantes de medicina têm sido responsabilizados pelos cuidados – de ofício de técnico de laboratório –, por exemplo, do laboratório de Anatomia. Portanto, é necessária a presença em todos os horários acadêmicos de pessoas qualificadas na gerência de cada laboratório do curso médico;

5. Peças Anatômicas Naturais: Solicitamos de imediato quatro cadáveres mais a entrada de um cadáver por ano para atender, eficazmente, às aulas de anatomia, à monitoria em anatomia humana, à prática em dissecção anatômica e à avaliação prática dos conteúdos teorizados em sala de aula. Atualmente, temos apenas um braço e uma perna, que serve ao estudo músculo-esquelético. Não existe nenhuma víscera humana para o estudo anatômico;

6. Peças Anatômicas Artificiais e Equipamentos de Laboratórios: Solicitamos as peças referentes, principalmente, aos sistemas humanos Respiratório, Digestório, Cardiovascular, Urinário e Reprodutor. Quanto aos laboratórios de Citologia e Histologia, atualmente faltam lâminas citológicas e histológicas; locais adequados para guardar o material de estudo e microscópios funcionais;

Nós – estudantes de Medicina do Campus Garanhuns da Universidade de Pernambuco – não somos contrários a essa política de expansão da Educação Médica e da Saúde Pública para o interior de Pernambuco. Isso é extremamente necessário, já que os interioranos precisam disso. Entretanto, não concordamos que essa expansão seja feita a qualquer custo sem, minimamente, considerar a dignidade do estudante, o respeito ao povo do interior e a própria valorização do professor, forçado a ministrar aulas sem a estrutura adequada de um curso médico. Infelizmente, a sensação comum é de decepção.

Portanto, além da responsabilidade comum de estudar, tomamos para nós a de diagnosticar esse processo de expansão da Educação Médica e da Saúde Pública em respeito a nossos princípios de cidadãos, a todos que confiam na capacidade desse grupo de futuros médicos e ao nosso sonho de nos tornamos profissionais de uma Medicina séria preocupada com a vida qualitativa do pernambucano, e não com a doença mesquinha de fins meramente eleitoreiros.

Somos 39 cidadãos, estudantes de Medicina e desprovidos de qualquer interesse politiqueiro, lutando pelo o que é certo e garantido no Estatuto da UPE, no Regimento da UPE, no Projeto Pedagógico do curso de Medicina da UPE-Garanhuns, nas Diretrizes Curriculares para o curso médico, na Constituição Estadual de Pernambuco e na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Dessa forma, nós contamos com o apoio do CREMEPE para que nossa luta por uma medicina qualitativa e humanizada seja cada vez mais forte e legitimada por uma tradicional e consagrada prática da medicina na sociedade pernambucana.

Atenciosamente,

1ª Turma de Medicina de Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.