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“NINGUÉM ABANDONADO”, diz o vice-presidente do Cremepe

Entrevista Maurício Matos

O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Maurício Matos, admite que diante da falta de leitos o profissional precisa fazer escolhas, mas diz à repórter Cinthya Leite que ninguém será abandonado.

JC – Como foi elaborada esta recomendação?

MAURÍCIO MATOS – Foram feitas reuniões com as Câmaras Técnicas de Medicina Intensiva, Nefrologia, Oncologia e Cuidados Paliativos para que o tema pudesse ser debatido extensamente. As unidades de terapia intensiva estão lotadas, e há pacientes nas unidades de pronto atendimento (UPAs), policlínicas, hospitais do interior e regionais precisando de leitos de UTI ou enfermaria especializada de covid-19. Nessa situação, o médico dessas unidades, sozinho, possui três, quatro, cinco pacientes para resolver quem é que vai (para o leito). Por isso, elaboramos essa recomendação e um escore para ajudar na hierarquização.

JC – Quem deve ser priorizado para ter vaga na UTI?

MAURÍCIO MATOS – Quando se tem 50 vagas e 100 pacientes necessitam do leito, é preciso escolher quem deve ir à unidade especializada. Não concordamos com corte etário, pois há pacientes idosos hígidos (com boa saúde). Então, reunimos escores, que foram somados, para tentar dar essa pontuação à unidade reguladora de leitos, a fim de que ela possa ter uma visão de quais pacientes estão com maior necessidade de UTI e com maior chance de sobreviver.

JC – É extremamente delicada esta situação…

MAURÍCIO MATOS – Isto soa meio cruel: “Eu vou escolher quem tem mais chance de sobreviver”. Já se identificou que, para determinados perfis de pacientes, a chance de sobrevivência é mínima ou quase nenhuma: um doente, por exemplo, que está num estado de gravidade grande. Tem insuficiência renal, falências cardíaca e pulmonar, doenças graves como diabetes, diagnóstico de câncer avançado… Já se sabe que esses pacientes terão chance pequena de sobreviver. Então, não é justo que, para se ter acesso a um leito, essa priorização seja para o mais grave ou o para o que chegou primeiro na fila. Imagine que há 10 vagas. Para o paciente de número 10, se for hígido, corre-se o risco de ser tolhida a chance de recuperação ao dar a chance a uma pessoa com sobrevivência mínima.

JC – O que é levado em consideração na soma dos escores para se ter acesso a leitos?

MAURÍCIO MATOS – Essa resolução é ampla, analisa escore de fragilidade (condição que tem implicações na qualidade de vida e na autonomia de cada pessoa) e comorbidades. Reunimos três scores que avaliam a previsão de sobrevivência a curto prazo do paciente e, a longo prazo, a partir da presença de doenças crônicas. Nenhum paciente será abandonado, mesmo aquele com pouca chance de sobreviver. Com cuidados paliativos, terá boa assistência.